quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Por um momento

«Há fotografias que mentem. Porque as fotografias suspendem a felicidade de um momento (tal como se ele fosse eterno). Aí, tu ficaste para sempre - feliz, suspensa e eterna. Essa é, hoje, a imagem mais forte, mais verdadeira, que tenho de ti. Não saias desta nossa fotografia. Nunca.»

(Miguel Sousa Tavares, NO TEU DESERTO)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rumo a destino incerto (mas com certezas na bagagem)

Nem sempre temos o que queremos e queremos o que temos. Uma determinada circunstância, por exemplo, pode ser vivida de forma abstracta, algures entre o ter e o não ter. Porque, mesmo supondo que nunca o iremos ter, há fixações que se nos permanecessem enraizadas na mente (não confundir com viver na ilusão). A psicanálise explica: a fixação não é mais do que um estádio onde se fixa um determinado desejo e que é caracterizado pela persistência, até que a vontade expressa seja, finalmente, cumprida.
Muito sumariamente, é isto: os psicanalistas convivem muito mal com a realidade. Deviam sair mais vezes de casa. São desfragmentados ao nível da insanidade. Deviam fazer uma ou outra loucura para perceberem a essência da vida. São demasiado perfeitos. Se fossem suficientemente alienados (ou doidos, recorrendo à gíria) talvez percebessem que nem sempre a vontade expressa é cumprida - por muita persistência que possa haver, por intermédio da fixação.
Falando pouco ou nada metaforicamente, também é isto: a vida vale muito pela dimensão que atribuímos às «coisas». No meu caso particular (e não sou suspeito para falar, porque conheço-me há muito tempo para saber que a minha loucura tem uma certa sanidade e bom senso q.b.), dou muito valor a tudo aquilo que acho que mereça ter valor. Mas isso sou eu, que - apesar de uma certa sanidade e bom senso - não deixo de ter, afinal, uma capa que esconde uma dose de loucura (polvilhada com uma pitada de parvoíce que, por vezes, me leva a ser injusto para com as pessoas que gosto).
Não sei para onde caminho (mas sei que rumo desejaria tomar). As mudanças, mesmo que aparentemente bruscas, não me assustam. O que é certo é que me sinto sozinho numa peregrinação a destino incerto. Tornei-me crente mesmo sem o pretender. Não estava nos planos, sequer. Simplesmente aconteceu. Mesmo sabendo no que acredito e no que sinto, tenho de reflectir sobre a posssibilidade de me tornar, tão depressa quanto possível, num psicanalista...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Da vida (II)

Olá. Falar "da vida" é, sem dúvida, assunto pleno de confusão, emoção e respiração... Podia ter feito um comentário, mas pareceu-me pouco para me pronunciar "da vida".
Falar "da vida" é falar das nossas escolhas passadas, presentes e futuras. Apagar? Não, nunca. São elas que fazem quem eu sou, quem tu és. Ter vergonha, também não. Voltar atrás? Não. Se as vivi foi porque as precisei de viver e elas enriqueceram. Não aplaudo tudo o que fiz e faço e farei. Já fui louca assumida. Já quis apagar o sopro de vida em mim. Já dei gargalhadas bem alto sozinha no meio da rua.
Vivo num constante limbo entre a alegria e o sofrimento e em todos estes anos não consigo mudar isso. O que está na base, eu sei. É a revolta. A revolta para com "a vida"; para com as circunstâncias que me envolvem tão profundas como a morte de alguém ou como o cheiro e o toque de quem se ama... e sinto tanta dor como sinto tanto prazer.
Às vezes penso na minha vida e na maneira como reajo a ela de uma forma em que parece que toco tudo com as pontas dos dedos. Sinto tudo e filtro tudo nesta epiderme. Processo de forma instintiva e reajo. Combate? Sempre pronta!
Sou capaz de amar ternamente como de ripostar de forma animalesca. Preciso sempre de uma droga para me equilibrar. O teu sorriso, o sorriso dela. A vossa presença fazem-me cantar de alegria. Porque a minha vida é muito mais. É a vossa vida com todas as escolhas feitas por vocês. Não apagues a riqueza dentro de ti. Não me faças pensar que tenho de ter os pés no chão desta terra que piso e como tal apagar o que fui e quem eu sou...

Com todo o meu amor.

domingo, 20 de setembro de 2009

Da vida

Há momentos em que, tão só e simplesmente, me apetecia ser apagado. Porque, apesar da minha obstinação em forma de casmurrice, sinto que merecia um mundo melhor. Não que não faça por isso - por pouco que seja - todos os dias, mas antes porque o mundo é, de facto, cruel. Não deve ser por acaso, aliás, que anunciamos a nossa chegada com lágrimas, ladeadas por gritos abafados de mágoa que nos despejam a alma e esvaziam os pulmões. Suponho que, nos primeiros instantes após o nascimento, a epiderme sente logo o toque agreste do mundo; uma espécie de brisa que resvala a pele, bem em jeito de aviso, de que a vida não será fácil.

Viver é (ou deveria ser) a coisa mais rara do mundo. No entanto, a maioria de nós limita-se a existir (por todas as mais variadas e complexas razões, o que nem sempre deve ser censurável). Sinto que sou um louco porque vivo num mundo que não merece a minha lucidez. O mundo parece-se, cada vez mais, com um palco onde muitos aparentam viver no limiar da felicidade. Pomos um ar sereno, envergamos o nosso melhor fato do optimismo e acreditamos que amanhã é que vai ser. Entretanto, fechamos os olhos ao passado e mordemos os lábios, na vã esperança de que o dia de hoje não seja mais do que isto: normal.

Tenho pensado no meu mundo - no que tenho e no que poderia ter. Não sei, sinceramente, em qual destes dois reside (ou residiria) a minha maior felicidade. Provavelmente - e porque há sonhos que nos perseguem - seria muito mais feliz no mundo que poderia ter. Não que aquele que hoje tenho seja sinónimo de eterna tristeza; bem longe disso, aliás (ou, pelo menos, bem menos longe do que já fora em tempos mais longínquos). Mas porque sei que, no mundo que eu poderia ter, há todo um conjunto de (im)possibilidades que me dariam ainda mais coragem para correr com ânimo renovado, na ânsia de alcançar sonhos, vontades e desejos.

Ninguém tem a obrigação de entender ou de aceitar o meu mundo; apenas que o compreendam, nada mais. Porque ele pode parecer complexo, mas é simples. Vivo muito em função do aqui e agora. Respeito o que sinto e admiro, sem jamais querer impôr quaisquer concessões (ou ferir susceptibilidades). É por isso que, por vezes, nas mais diversas circunstâncias da vida, tenho a leve sensação de que sou aquela folha que caiu do cimo da árvore, tendo sido capaz de desarrumar todo um universo inteiro. Pressinto que posso estar sem quererem propriamente que eu lá esteja (apesar da minha vontade de me ficar). É uma generalização, de resto, que se aplica a todos os campos da vida.

O meu avô dizia-me, com o ar mais sábio e meigo deste mundo, que há três coisas na vida que nunca voltam atrás: uma flecha lançada; uma palavra pronunciada; e uma oportunidade desperdiçada. Sobre as palavras pronunciadas: posso até nem concordar com tudo o que algumas pessoas dizem. No entanto, sou capaz de defender até à morte o direito que elas têm de o dizerem. Este é o caminho da verdadeira amizade (providenciada por quem nos rodeia e por quem gostamos), que nos leva a saber tirar proveito das oportunidades, sem nunca deixar que as flechas não acertem no alvo.

Intriga-me saber o que pode haver muito para além da própria vida. Nada do que somos deverá ser por mero acaso; nada do que nos acontece (ou não acontece) terá de ser apenas ocasional; há um sofrimento (que, sem dúvida, não é distribuído de forma igual por todos) que terá de ser compensado de alguma maneira. A haver justiça divina, seria razoável que ela fosse posta em prática ainda aquando da nossa passagem pela Terra.

Talvez assim fossemos a tempo de evitar desperdiçar oportunidades; talvez tivessemos mais coragem em transformarmos o mundo que «poderíamos ter» no que «temos»; talvez a nossa loucura fosse suficientemente contagiante para fazer com que o mundo não fosse demasiado normal e enfadado, cheio de regras e assombrado por falsos atilados que nos lembram, a todos os instantes, que há sempre uma norma qualquer para nos fazer calar o bater compassado do coração.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O preço da distância

As palavras, quando ditas à distância - e mesmo que sejam repletas de sabedoria -, não têm o mesmo efeito quando ditas olhos nos olhos. Podemos até estar juntos e não dizermos uma só palavra, mas a circunstância de estarmos lado a lado, sem essa coisa nefasta da distância, consegue ter mais impacto do que um conjunto de sílabas.
Porque a distância dói, mói, corrói. Desmotiva-nos, até. Não termos por perto os que muito nos dizem - e que são capazes de verbalizar um elogio, um grito de desabafo; o que seja -, faz-nos pensar no quão fútil é o mundo. Por muito maior que ela seja, são as pequenas coisas que importam. Um abraço, um beijo, um olá, um obrigado, um «podias ter feito este trabalho bem melhor». Acima de tudo, a vida vale por quem, no dia-a-dia, nos diz isto e muito mais. Tudo isto se passa numa pequena parcela da Terra. E, mesmo assim, conseguimos, por vezes, ser tão fortes que o mundo se torna demasiado pequeno à escala daquilo que verdadeiramente somos, fazemos e sentimos. Acho que vale a pena continuarmos a batalhar. Por mim, pelo menos, já valeu a pena...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Todas as ruas do amor

Se sou tinta
Tu és tela
Se sou chuva
És aguarela
Se sou sal
És branca areia
Se sou mar
És maré cheia
Se sou céu
És nuvem nele
Se sou estrela
És de encantar
Se sou noite
És luz para ela
Se sou dia
És o luar

Sou a voz
Do coração
Numa carta
Aberta ao mundo
Sou o espelho
D`emoção
Do teu olhar
Profundo
Sou um todo
Num instante
Corpo dado
Em jeito amante
Sou o tempo
Que não passa
Quando a saudade
Me abraça

Beija o mar
O vento e a lua
Sou um sol
Em neve nua
Em todas as ruas
Do amor
Serás meu
E eu serei tua




Intérprete: Flor-de-Lis
Letra da canção: Pedro Marques e Paulo Pereira

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Já chegaste?

Pergunto-me se já chegaste e com isto só me lembro "deves estar a chegar (estiveste tão longe e agora deves estar a chegar)". Espero que estejas bem. Por algum motivo estou desmotivada (mas deve haver um motivo para esta falta de motivação).
Suspiro quinhentas vezes e em cada suspiro sinto o meu pavio da vida a consumir-se rapidamente e com ele vai a minha luz. Entendes? Sinto-me assim desde ontem... a apagar-me. E tu estás longe e não me podes dizer aquelas coisas certeiras que me fazem perceber que ainda não perdi completamente a minha sanidade. Fazes parecer que tudo aquilo que eu sinto de anormal em mim é o mais natural da vida. E eu vou deixando de me sentir assim tão estranha e... a apagar-me.
Já chegaste?

Leituras de viagem

Levo, nesta minha viagem, três livros. Demorei aproximadamente 3h45 para escolher dois deles. O outro - o de capa branca - foi gentilmente ofertado pela senior account cá de casa. Além de me ter ficado barato (não foi, sequer, comprado com o meu cartão de crédito), ajudou-me a economizar tempo. Se eu tivesse de escolher um terceiro livro, arriscava-me a acabar a selecção lá para as 5h da manhã. E era chato. Mas, de todos eles, há um que salta à vista...
...«O Signo dos Quatro». Não tanto pelas qualidades por demais evidentes do autor (A. Conan Doyle), mas antes porque o 4 é, em si, um algarismo especial. É um número que - na minha singela perspectiva - encerra toda uma mítica que permanecerá, para sempre, no tempo. Cerro os olhos e imagino o 4...
Num instante, assaltam-me à memória imagens dispersas e difusas de círculos quadrados; água (será de um rio?); dois pares de copos atestados com sangria; televisões que não funcionam (há aqui influência do 4, tenho a certeza); gemidos (não foram 4, mas - pelo menos - duas vezes, isso foram).
O 4 é um número que me acalma o espírito e me faz dormir. Mas há algo no 4 que, qual contrasenso, me faz sobressaltar (como se de um pesado ressonar se tratasse). No fundo, o 4 é um algarismo fofinho e uma besta.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Reflexões quase em tempo de check-in...

Makira, a vida é o que é e vale aquilo que vale. Se é muito ou pouco, só depende (em parte) de cada um de nós. Mesmo que, por vezes, possa parecer que estamos a atravessar o cabo das tormentas, não merece a pena hastear a bandeira branca e desistir a meio da travessia. Sei do que falo porque sou exímio em caminhadas difíceis. Tenho o dom de me calharem em sorte (não é escolha; simplesmente acontece e, contra isso, nada há a fazer; e contrariar a alma é como pôr uma venda nos olhos) percursos sinuosos. Mas sei que alguns desses atalhos me levam a caminhos muito felizes.

As circunstâncias fazem parte da vida. Umas mais dolorosas do que outras, mas acredito que nada é fruto do acaso. Passei a dar mais importância ao momento presente. Porque há segundos ou minutos que, no fim de contas, valem toda uma vida. Passei a escutar mais a voz do coração e a silenciar a da razão. E, assim como assim, a razão não explica tudo (nem consegue, sequer, ter a capacidade de nos fazer acelerar o batimento cardíaco, por exemplo).

Também não sei lidar com as saudades. Também fico de mau humor. Ou (contrasenso, eu sei), com um aparente bom humor (mas que não passa disso mesmo: uma aparência que serve apenas para camuflar uma espécie de formigueiro interior; um vazio interior; de que algo fica). É nas alturas em que a distância me separa dos que mais gosto que emerge, ainda mais, este saudosismo. Vejo toda a vida passar-me à frente, em frames sequenciadas, e apodera-se de mim uma vontade inolvidável de voltar aos momentos em que já fui muito feliz. E não há dinheiro que pague a felicidade - mesmo que passageira e marcada no tempo.

Não sei como será o dia de amanhã. É essa incerteza que justifica ainda mais a outra certeza; a da necessidade de saborear o presente (ou, por outras palavras, de fazer com que este tempo presente seja memorável no futuro). As más recordações também existem e fazem parte da vida. Mas é por isso que lhe chamamos passado. O agora é tudo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Saudades

Não lido bem com saudades. Fico de mau humor. Detesto contagens decrescentes. Prefiro pensar na globalidade e depois surpreender-me com a proximidade do fim das saudades.
Mas além disso, acho que há saudades e há saudades. Há outras saudades que nos fazem sentir bem, como dois braços a agarrarem-nos e a paralisarem-nos naqueles instantes segundos de viagem ao passado. "E lembraste quando..." até dá para sentir cheiros, ver o filme e trazer novamente as emoções. No fundo, o que remonta ao passado, se tiver sido um passado bem processado, poderá trazer este tipo de saudades que se taduzem por um sorriso no presente ou uma gargalhada pelo que foi e soube bem.
Não gosto de remexer no passado. Aconteceu. Já não faz parte do presente. Mas confesso que, às vezes, o remexer pode ser um momento bem passado no presente. Sem significado para o presente - é como ver um filme. Passa-se um bom momento a recordar.
Hoje mais do que nunca precisava de "fugir" do presente. Na nossa conversa utilizaste bastantes vezes este termo. "Fugir", "fugir" e, afinal, no presente, ajudaste-me a "fugir". E no presente eu precisava de "fugir".
E a armadura não serve apenas para o combate, a menos que eu esteja numa batalha todos os dias... se calhar é isso. Mas já estou a conseguir levantar o peso da armadura.
Obrigada pela disponibilidade e por simplesmente "estares".

PS - vou tentar ser mais oásis e menos enxurrada.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Contagem decrescente

Não sei se já será efeito das milhas de distância a que estarei sujeito... Mas, qualquer das formas, tenho muitas saudades de deixar em terra os que ficam e os que me dizem muito. Partirei, tenho a certeza, com a sensação de que ficará por cá um pouco de mim - o que é muito. Talvez o destino, por ser longínquo, ajude a adensar este meu jeito peculiar para saudosismos. O facto de não poder festejar um aniversário, por exemplo, favorece ainda mais este sentimento.
Conhecendo-me como conheço, darei os últimos passos na gare do aeroporto de olhos postos no chão, com a memória vincada em tudo o que de bom me aconteceu nos últimos tempos. É uma espécie de balanço da vida em 5 minutos - estúpido, eu sei, mas é um avião e temos de respeitá-lo...
Há várias pessoas que incluo na bagagem. Vão comigo e não as largarei nem por um minuto. Fazem parte de mim - seja de que forma for - e tão depressa não as deixo viver sem o meu lado casmurro. Só peço a Deus que eu lhes faça tanta falta como elas me fazem a mim. Até já...

domingo, 6 de setembro de 2009

Salaam e ishq

Alma