terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Diz-me com quem andas... (II)

«Os doentes psicóticos não costumam procurar ajuda por iniciativa própria e tornam-se mais perigosos por viverem numa realidade diferente (...). A psicose é entendida como uma profunda alteração da consciência do sujeito e criação de uma nova realidade. (...) Os sujeitos psicóticos são caracterizados pela perturbada tomada de consciência perante si mesmos e perante o mundo exterior».

Psicoce parece ser a palavra-chave que resolve todo (ou quase todo) o mistério. Atente-se ao conteúdo dos últimos telefonemas de Renato Seabra, dirigidos à mãe e à irmã: «a comida está com sabor estranho»; «durmo mal»; «sinto-me numa prisão, estou farto».
Aos 20 anos, há quem julgue ter estofo e arrojo psicólogico para levar por diante uma vida fingida, a troco de presentes, mordomias e luxo. E, aos 65 anos, há ainda quem acredite num amor arrebatador e correspondido (não que ele não possa realmente existir, mas apenas porque, no caso em questão, o interesse puro e simples confrontava-se com o amor cego e desmedido).
A corda acabou por quebrar nos dois lados. Enquanto um continuava "à procura do sonho", o outro aguardava juras de amor. Desejos por concretizar e promessas não cumpridas. O fim de um contrato, onde as duas partes ficaram a perder.
Tenha ou não havido provocação, o que pode justificar um acto tão bárbaro e cruel? Para Renato, tirar a vida saberia a pouco. Havia que «livrá-lo dos demónios sexuais». Espancamento, tortura e morte. O criminoso assumiu (ninguém confessa por confessar), tem traços demarcados de insanidade (além da natureza do crime, é impressionante a maneira como, após a morte e já no átrio do hotel, diz à amiga de CC que «ele já nunca mais vai sair deste hotel», sai porta fora e vagueia pela ruas de Nova Iorque) e deu o maior desgosto que alguma vez poderia ter dado a uma mãe.
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NOTA: reitero a incógnita que paira no final do post anterior (ver abaixo)... Esta história tem mesmo qualquer coisa que não bate certo. Talvez seja o facto de não termos a verdadeira consciência no quão inconsciente o ser humano se pode tornar.

4 comentários:

acatar disse...

estás um bom Moita Flores.

الرجل البسيط disse...

Tão intrigado quanto tu. Apenas isso.

Makira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Makira disse...

Sou apologista, ou pelo menos, encaixa melhor no meu consciente, a tese de que se subtemeu a uma natureza sexual que não seria a sua (por vontade própria, atenção!). julgo que acharia ser capaz de ter relações homossexuais para alcançar o seu fim.
o que se esqueceu é que, de ordem psicológica, essa "inversão" da sua natureza sexual (porque pelos vistos sempre "foi" hetero até ao encontro com o CC) queimaria, de facto, fusíveis no brain ao ponto de alcançar estados totalmente perturbados e sem racional ou controlo à mistura. no meu ver, aquela submissão/resistência interior deu origem a uma explosão do género big bang naquela cabecita que o levou à acção que sabemos...