terça-feira, 14 de julho de 2009

A insustentável leveza do ser

A minha devoção por temáticas mais alternativas (e que, por norma, não demonstro em público) fizeram-me recuar no tempo (até Junho de 2007, para ser mais exacto). Ao retirar isto do baú de memórias, recordei a iniciativa inédita do cardeal Renato Martino, nomeado sacerdote em 1957 - e, desde então, com uma carreira em ascenção fugaz: a elaboração de um documento com mais de 30 páginas relativo aos «10 mandamentos do bom condutor».
Não vale a pena ser exaustivo. Basta referir dois: "um bom condutor católico não faz gestos obscenos através do espelho retrovisor; dar tudo por tudo para evitar "instintos primitivos" como "praguejar e blasfemar". Ao cardeal, digo apenas isto: IC19.

Estas são as evidências: o cardeal Renato Martino descobriu que existem meios de locomoção motorizados. São grandes desenvolvimentos. Sobretudo se tivermos em conta que o automóvel só foi inventado há pouco mais de 100 anos... O cardeal Renato Martino é um progressista em toda a sua plenitude. E, por este caminho, faltam apenas uns 60 ou 70 anos para o Vaticano descobrir que a SIDA existe.

Posto isto, e aquando da revelação dos «10 mandamentos do bom condutor», havia uma pergunta que estava na mente de toda a gente: seria possível fazer mandamentos de alto nível, como antigamente? Lembro-me que o mundo parou. Não seria fácil suplantar, por exemplo, o momento em que "Moisés subiu ao Monte Sinai e lavrou duas tábuas de pedra".

E a verdade é que houve todo um sentido metafórico que se perdeu, quando comparamos o folclore actual com a euforia e o deleite de tempos idos. Não há, sequer, um profeta a conduzir o povo escolhido pela IC19 ou a subir a Calçada de Carriche para receber os mandamentos do Ser Supremo em pessoa. É uma ideia que teria o mesmo efeito se, há mais de 2 mil anos, as tribos de Israel aproveitassem os tempos mortos para organizarem um encontro de tunning...

Mas estamos noutra época. É impensável imaginar que, numa 6.ª feira santa, poderia haver alguém a mandar parar o trânsito na Ponte 25 de Abril para deixarem passar os escravos que vinham do Egipto em direcção a Almada.

Digo tudo isto porque tenho a minha fé e sou um crente assumido. Abrir as portas a iluminados como o cardeal Renato Martino é contribuir para a continuação de uma Igreja estigmatizada e parada no tempo. Tal e qual o IC19.

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