segunda-feira, 10 de maio de 2010

Gula & luxúria

Há pessoas que, para cairem nas boas graças de Deus, estão dispostas a apreciar ao vivo as divagações em latim de um idoso de 83 anos - e que sempre foi incapaz de se referir à pedofilia como um crime, preferindo chamar-lhe «pecado». Os fiéis calam e consentem, admitindo a ideia de que o abuso de crianças por parte do clero (isto sim, um verdadeiro crime de «colarinho branco») é uma mera «fraqueza dos homens». O número de casos vindo a público diz tudo: não é fraqueza; é, antes, uma tara doentia, punível e que marca para sempre todo aquele que é abusado.
O Papa tem todo o direito de se fazer passear no seu «papamóvel» por onde bem quer e deseja. Não lhe concedo é o direito - posto em prática por terceiros (e onde se incluem os que nos governam) - de fazer de uma missa o supra-sumo da existência humana. Gastar rios de dinheiro neste tipo de festival, fechar escolas e decretar pontes é uma imposição disfarçada (e abençoada). É, em última instância, uma afronta aos princípios morais e religiosos de quem é crente de forma diferente. É atirar areia para os olhos, fazendo-nos esquecer, por momentos, que o país está a bater no fundo e que é administrado ruinosamente por uma trupe que enriquece à custa do esforço alheio.
E o que fazer para contrariar esta tendência vertiginosa? Nada. Fazer qualquer coisa, dá muito trabalho. O povo não está para isso e sempre é preferível ir à missa e ver as rugas de Sua Santidade. Preferimos viver na ilusão e sermos embalados pelos cântigos religiosos, com uma boa dose de hóstias a reconfortar o estômago e a limpar o cadastro dos pecados.

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