sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Afinal, sempre a comi

De tantas vezes a ver, tinha de a comer. Nao sei se era a mesma malhada que insistia em parar ah beira do cercado, aqui junto ao hotel, observando tudo e todos. Mas, ao almoco, calhou-me bife da vazia. E creio que era da malhadinha. Constatei que, hoje, ela nao deu qualquer sinal de vida. De qualquer das formas, nao se perdeu grande coisa. A carne do bicho era dura.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

¡Todo estay bien!

Madrid. No meio das vacas. Algures entre La Rambia e Jarama. Determinados órgaos de informaçao (onde está o "til" na merda deste teclado???) enviam os seus grandes repórteres para cenários de guerra, onde a resistência de cada um é posta à prova - e onde o jornalismo cumpre a sua missao (lá está: o "til" - ou a falta dele) mais nobre: farejar histórias, ouvir os mais fracos e oprimidos, atravessar a rua sob a ameaça de um tiro perdido, o sangue quente a percorrer as veias e o coraçao a latejar à velocidade de uma rajada de balas.

Agora, enganei-vos. Estou aqui porque, também eu, tenho uma missao nobre. E, para a cumprir, tenho de ter sangue na guelra. Está muito enganado quem pensa que os tipos da imprensa especializada (no caso, na área da saúde) se cingem a falar de contracepçao, menopausa ou amenorreias. Há toda uma perspectiva obscura (o "gueto dos osteoblastos") que importa levar ao conhecimento dos leitores. E, para isso, é preciso correr riscos - como estar num hotel sinistro, no meio de nenhures, rodeado por prados subtis onde desfilam vacas e cordeiros.

Afinal, quem sao os responsáveis pela síntese dos componentes organicos da matriz óssea? Isso mesmo: os osteoblastos, essas células de que poucos ousam falar, localizadas na superfície do osso. E depois há os proteoglicanos, as glicoproteínas... Uma verdadeira máfia instalada no nosso corpo, capaz de desencadear as mais severas patologias. Estou aqui para ouvir especialistas de renome, confrontar ideias, desbravar caminhos (ainda) pouco conhecidos.

Nem os becos escuros ou os latidos dos caes selvagens, perdidos dos caçadores ou dos pastores, sao capazes de me assustar. A minha sede de saber e a vontade de revelar ao mundo todos os segredos envoltos em torno dos osteoblastos sao a luz que ilumina estes recantos repletos de escuridao. No fundo, sou uma espécie de "pirilampo dos pequeninos": ágil, discreto, eficiente. Sou a voz dos silenciados e os olhos dos que nao conseguem ver.

Algures entre La Rambla e Jarama. Aqui estou eu, na missao a que fui destinado. Sem medo do abismo e pronto para qualquer sobressalto. Admito o nervosismo. Ainda há pouco, por exemplo, tirei uma pele eriçada, bem junto à parte superior da unha. Sangrei. Mas, qual bravo do pelotao, aguentei firme, sem protestar, com o dedo a escorrer sangue. Porque nós, jornalistas, temos de estar preparados para uma qualquer eventualidade. Porque o jornalismo nao se escolhe. É ele que nos escolhe a nós. Mas deixemo-nos de rodeios. A prosa já vai longa e o tempo urge. A noite já desceu sobre este mantro obscuro e deserto. Agora, é chegada a hora de ir tratar da Veronica. Até breve.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Bife da vazia*

Terça-feira. Já é noite e eu sem ter colocado um único post. No mínimo, indecente. Bem queria acompanhar a pedalada deste gajo, destronando-o no número de posts elaborados a cada 10 segundos. Mas não consigo. Admito o meu falhanço. Fiquem agora com a imagem do dia. Ah, e está tudo bem.
Nigella Lawson [copa F]
Rigoroso exclusivo Street Spirit

* Embora possa haver uma associação (mesmo que metafórica) entre o título deste post e a imagem acima, esclarece-se que «bife da vazia» foi a forma mais eficaz de homenagear o sr. Amílcar, prestigiado talhante aqui do bairro que vende os melhores nacos de vaca. Obrigado pela qualidade com que brinda a clientela, sr. Amílcar. Espero que também esteja tudo bem.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Associativismo

Como é que se entra na Maçonaria? Um tipo tem de ter familiares/amigos dentro daquilo ou pode candidatar-se através de formulário próprio com fotografia actualizada (tal como se tira o passe da CP ou se adere ao Partido Socialista)? E o traje, é caro? O avental, por exemplo, pode ser adquirido junto à área de utensílios de cozinha do Continente? As reuniões dos maçons são todas em regime presencial ou há a possibilidade de participar online? Também dão cupões de desconto para combustível? Alguém que tenha a amabilidade de me esclarecer estas dúvidas, por favor. Já há muito tempo que ando para fazer merda. E quer-me parecer que não vou lá se não pertencer a uma seita à maneira.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A informação nos tempos modernos

Definitivamente, a semana tem estado a correr muito bem à Coca-Cola. Em poucos dias, conseguiu chamadas de capa nos jornais, espaço nos noticiários televisivos e até nos blocos informativos das rádios. E soma e segue, como se pode ver por aqui. Desta feita, a coisa derivou para a KFC e até para os pastéis de Belém. Como está bonito (e criativo), o jornalismo. Gosto.

A arte de Dahl

Eis o programa originalmente emitido na BBC (e que, muito recentemente, passou na SIC Mulher). Foi esta "receita", aliás, que me motivou a discernir algumas considerações sobre a arte e destreza culinárias de Sophie Dahl, num dos posts mais abaixo. Dahl não deve ser entendida como "mais uma" chef de cozinha. É, antes, uma sapiente artista das panelas e dos tachos, em todo o seu esplendor, que emana luz e sabe como nos alimentar a alma. Os pratos confeccionados por Sophie Dahl são telas repletas de ingredientes belos e coloridos, que merecem ser degustados até pelo olhar. Tal como a apreciação de um quadro de Renoir exige a aquisição prévia de determinados conhecimentos, também as obras criadas por Dahl só serão entendidas no seu todo apenas por uma pequena parte do público. É assumido: gosto desta mulher.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O segredo mais bem guardado do que todos os segredos de Fátima

Afinal, e segundo informações recentes, a receita que consta no artigo divulgado no post anterior é de 'Coca-Cola martelada'.
Aos leitores do Street Spirit, as nossas sinceras desculpas pelo lapso, ao qual somos totalmente alheios.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ervas aromáticas

Pode não parecer. Mas isto...

...é (parte da) Coca-Cola.
Eis o 'segredo' revelado. Aqui.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O amor é louco (e Paixão também)

Nunca gostei de Pedro Paixão. O estilo e a narrativa denunciam a sua personalidade bipolar e eternamente insatisfeita (característica já assumida pelo próprio, em várias entrevistas). Na 2.ª feira (14 Fevereiro), o Metro dedicou-lhe quase meia página.

O escritor acedeu escrever um texto ficcionado, a propósito do amor. No breve conto, o narrador (de meia-idade) mantém uma relação com um jovem. Ao ler estes excertos...

O que importava era eu sentir que cada frase que trocávamos era mais um fio que nos unia numa perfeita teia de aranha. De que gostas, o que sentes, em que pensas, diz-me agora. Eu era a aranha. (…) Levei-o para minha casa, para o meu quarto, para a minha cama branca. Era um miúdo desajeitado. Tive pena dele. (…) Por momentos senti-o triste e feliz ao mesmo tempo, por estar ali comigo. Não é fácil provocar num homem sentimentos contraditórios. Gosto de os sentir desorientados. Sem já saberem o que podem fazer, ou dizer. Quando ficam mudos e encadeados e perderam a memória. (…) Tive de aprender que o desejo de amor não pode ser saciado. O que o futuro traz só a mim pertence. Não chegarei a saber a cor dos seus olhos.


...ocorreu-me isto. Eis Pedro Paixão, igual a si próprio: escrita assumida, mas descomprometida; bastante claro, mas em tudo vago; a querer provocar, mas apenas a fazer cócegas. Em suma: é urgente que Paixão encontre um novo 'dealer'.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Em boas mãos

A SIC Mulher sabe tratá-los bem. Aos homens, quero eu dizer.
Facto prévio #1: se há coisas que as mulheres se queixam é de que os machos (nomeadamente os 'alfa') não sabem cozinhar. Só atrapalham, não distinguem uma frigideira de uma panela e estão-se nas tintas para aprender.
Facto prévio #2: elas começam a ficar fartinhas desta merda (para escravas dos tachos, já bastaram as avós e as mães). Daí que o canal feminista da SIC tenha inovado, ao ter adquirido os direitos de transmissão do programa de Nigella Lawson.

Sabendo que os homens não são parvos, a SIC Mulher voltou a inovar. Agora, todas as semanas, as artes culinárias entram-nos casa adentro, pelas mãos de Sophie Dahl. Foi para 'desenjoar' da Nigella.

Os ingredientes, contudo, mantêm-se. Receitas exóticas, cenários simples e repletos de recipientes com ervas aromáticas, voz doce e sensual (a roçar o leite creme com travo a canela) e decotes q.b., coisa que nem o Manuel Luís Goucha se lembraria quando ainda usava bigode e apresentava um 'programazito' de receitas, na RTP.
A SIC Mulher ganha pontos. Porque sabe o que os homens querem. Pena que poucos ou nenhuns tenham capacidade para acompanhar, ao mesmo tempo, a deslocação das mamas de Dahl e aquelas coisas todas que ela cozinha.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quando o óbvio nos parece demasiado simples

A notícia surgiu n'O Jogo - e o amigo Acatar aproveitou para passar a mensagem. Em duas linhas: Vanessa Fernandes terá interrompido a carreira desportiva devido a "uma doença de coração: o amor" [citação]. Sem qualquer confirmação oficial por parte da atleta e do seu treinador (conotado como namorado, sendo preparador físico de Vanessa Fernandes desde Novembro de 2009...), o amor enquanto causa evidente do abandono pela competição parece surgir «intuitivamente» (no fundo, é a mesma filosofia da imprensa cor-de-rosa: o rumor aparece e as «fontes» [amigos, vizinhos, conhecidos...] dão-lhe toda a consistência de uma verdadeira notícia - mesmo que os intervenientes desmitam ou não comentem os factos).

Neste caso, as palavras de Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal, cairam que nem ginjas: "ela [Vanessa Fernandes] transformou-se numa mulher; uma bonita mulher". Importa reter que o DN foi mais longe, associando - de forma indirecta (e pouco bonita) - a decisão da triatleta ao "medo de falhar", às "dificuldades em lidar com a pressão", à "perda de confiança" e à "desmotivação". Em suma: o caminho dos jovens campeões é tão penoso que, um dia, acontece a glória; e, no outro, a depressão (apenas para aludir ao título do artigo).

O que se passa com a Vanessa Fernandes é o mesmo que se passa com outros atletas da alta competição. Melhor dizendo: com outras atletas (do sexo feminino, bem entendido, porque a questão reside precisamente no género). Chama-se «tríade da mulher atleta» e trata-se de uma síndrome que envolve a alimentação desregrada; a amenorreia (ausência de menstruação); e/ou a osteoporose. Em Ginecologia, o diagnóstico e tratamento das disfunções menstruais, entre as mulheres que praticam exercício físico intensivo e/ou extensivo, constitui o motivo mais frequente para procurar ajuda médica.

A triatleta anteriormente mencionada terá tido, durantes anos a fio, amenorreia secundária (a taxa de prevalência desta situação clínica pode, aliás, ser até 20 vezes mais elevada entre as atletas de alta competição, por comparação com a população em geral). Um treino intenso e regular é condição suficiente, per si, para desencadear amenorreia atlética. Perguntar-me-ão: «então, e só por ter o período, a tipa deixa a alta competição??». Respondo: a verdade é que deixou (e talvez as implicações decorrentes de uma menstruação, surgida aos 25 anos de idade, sejam bem mais complexas do que aquilo que julgamos). Releiam, agora, as palavras de Vicente Moura: «ela transformou-se numa mulher...».

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vamos aos treinos

Já lá vão os tempos em que o parque de Monsanto se resumia a um imenso prostíbulo a céu aberto. Apesar do abandono a que algumas infraestruturas estão votadas (a Serafina e o Alvito, por exemplo, já tiveram melhores dias...), convenhamos que nem todas as grandes capitais europeias podem reclamar para si próprias um espaço central onde se respira ar puro - e apenas a poucos minutos do centro urbano. Pena que Monsanto tenha, ainda, um carácter demasiado sazonal (i.e., quase que vive o seu auge no Verão, para depois 'hibernar' nos meses mais frios). Ainda assim, vale a pena partir à descoberta de um sítio (raro), em Lisboa, onde predomina o verde.

Um dia destes, caí na tentação de percorrer os caminhos sinuosos (no bom sentido) de Monsanto. Não tão enigmáticos como os da serra de Sintra (até porque são únicos - o que muito se deve à carga emocional que o sítio encerra), é certo, mas não dei o tempo por perdido. Uma das descobertas chama-se campo de tiro, cuja localização não dista muito da rotunda de Pina Manique (para os mais distraídos: basta seguir o som estridente das 'carabinas').

O campo de tiro de Monsanto tem, contudo, um lado mais lúdico (e menos bélico). Um descampado com todos os preparos torna possível o treino com recurso ao arco (ou à besta, consoante a preferência do utilizador). Ali, trabalham-se a agilidade e a perícia, num ambiente salutar e pouco dado a 'selectividades'.


Os arqueiros trocam impressões, confrontam ideias, emprestam material e - supreendam-se! - não gozam com quem não leva arco ou é um mero iniciado na disciplina (revejo-me em ambas as situações).



No meu caso, tive, até, a possibilidade de experimentar um telémetro (vulgo medidor de distâncias) de um arqueiro desconhecido. O espírito dos arqueiros é contagiante. Pode ser que, um dia, a coisa se proporcione...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Hino à alegria: a celebração de todo um novo Eu

O mundo é feito de mudança – e eu também. Decidi que, a partir de hoje, irei carregar a Liturgia Diária na mochila, em vez de esbanjar dinheiro com o Diário de Notícias ou com o Público. Não hesitarei, sempre que encontrar um mendigo ou uma alma desamparada, em iluminar-lhe o caminho, com os ensinamentos de Deus. Sejamos sinceros: se Deus quisesse que comprássemos jornais para ler as notícias, não tinha inventado a televisão (além disso, O Preço Certo ou a novela Laços de Sangue só têm lugar nesse mausoléu que é o televisor).

Porque mudei? Porque, acredito, eu sou o Rosto de Cristo (sobretudo nos dias em que não aparo a barba). Basta-me erguer as mãos e todo eu sou Cristo. Transporto, comigo, toda a Misericórdia de Jesus e do Seu verdadeiro amor (Cfr. Lc 5, 31-32). Há quem olhe para uma bolacha Maria e veja apenas isso: uma simples bolacha; mas, para mim, é uma hóstia. Jejuarei água. A vida só faz sentido se regarmos a alma com vinho de pacote do LIDL. O sangue de Cristo, afinal, não escolhe marcas nem preço.

Oração

Jesus, orientai-me. Apesar de toda a minha perfeição, aceitai os erros e as falhas dos meus semelhantes. Faz-lhes ver que, um dia, eles poderão ser tão completos quanto eu. Leva-me como Tu quiseres. Nem que seja de táxi. O que importa é não faltar às 5.as feiras loucas do Frágil ou do Lux. Ajudai todas as mulheres que me desejam a ter alguma paciência. Chegará para todas. Mas dêem-me tempo. Amén.

Calendário venatório: época de caça

Eis o panorama cinegético da coisa: no escritório (zona de caça), abundam presas (gajas) a rodos. O posto de caça (secretária) é perfeito: discreto, com um bom campo de visão, permitindo a observação minuciosa de todos os exemplares que ousam fazer uma aproximação mais cerrada. A posição geográfica do cevadouro (fotocopiadora) não podia ser melhor. Ali perto, do meu palanque (secretária), vislumbro as peças (gajas) que vão desfilando - umas a passo apressado, outras num ritmo mais vagaroso. Contudo, e apesar de todos os esforços evidenciados, a taxa de abate (engates) é nula. A área está densamente povoada (há mesmo gajas com fartura) e já era altura de equilibrar a fauna (é um desperdício não me apoderar disto). Decididamente, tenho de rever os planos. Das duas, uma: ou arrumo a besta e aposto na caça tradicional (com montarias e batidas); ou então armo-me em Robin dos Bosques, visto os meus melhores collants e dou-lhes com o virotão até mais não.