domingo, 31 de maio de 2009

Um olhar (II)

Fiquei a pensar na questão da calculadora e "do fazer contas à vida". Acho que já há muito tempo que me deixei de "fazer contas à vida" e tudo se resume aos segundos que se ocupa nesses cálculos... enquanto se faz contas à vida, deixa-se de viver. É um tempo parado porque só após os resultados dessas contas se sabe que direcção adoptar, n'est ce pas?
Não gosto de pensar na vida, não gosto de fazer contas, prefiro viver... os resultados nem sempre são positivos e podem levar-me à "bancarrota". Há que viver com as minhas escolhas irracionais e depois acarcar com as consequências: este é o meu pacto. Se é fácil? Não, não é.
É estar em queda livre, ver o chão a aproximar-se e saber-se que dali só se sai de rastos. O desafio, às vezes, é o tempo que demora essa queda livre, ou seja, se o encontro com o chão é mais rápido do que se pensa ou ainda está longe e vou apenas gozando a sensação de ficar sem ar...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Protesto aos infortúnios

Designo por infortúnios todos aqueles episódios da vida, nos quais nos parece que o tempo ou o Universo não jogam a nosso favor, apesar de os peões envolvidos na jogada partilharem de forma vincada o mesmo interesse, ou será dizer, o mesmo objectivo final.
Ou seja, os peões mantêm com afinco e grande vontade o desejo pela vitória da batalha, mas os infortúnios atrasam a concretização deste objectivo.
Humpf!
Como diz um amigo meu: «Não há condições!».
E declaro o meu protesto!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O cherne, o pargo e o inexpressivo poder de compra…




Pouco passava das 6 da tarde, o dia de sábado decorria normalmente apressado e eu, apático e de abdómen posicionado paredes meias com a banca do peixe, expectante, senha «para amanhar» azul bebé na esquerda, cesto Pingo Doce na direita, aguardo vez. Assim estávamos vários, ora senha «para amanhar», ora senha «só pesar». Presenciávamos a lenta azáfama da raparigas oriundas dos PALOP que, mesmo a propósito, faziam contrastar a sua pele escura com o uniforme branco da secção da peixaria. Veio-me á memória o negativo fotográfico. Se daquelas criaturas se fizessem positivos em papel, a imagem resultante seriam duas mulheres brancas com fardas pretas, com o logótipo em magenta, ao peito.
O pargo mulato está em promoção, mas só esta semana! Pensei com os meus botões: - Compro um grandito, chego a casa dou-lhe umas naifadas, divido-o em cinco partes e faço uma refeição para todos, por baixo preço. Aquele maior não deve passar dos 10 euros e fica a festa feita! Nisto oiço: - Uma posta de cherne por favor! Era um dos fregueses. Tinha senha cor-de-rosa classificada como «só pesar» e estava á espera há pouco mais de 2 minutos. Os da senha azul esperam mais tempo.
Não foi a rapidez com que foi atendido que me fez exasperar. Também não foi o facto da posta de cherne não chegar, nem por sombras, para uma refeição lá ´pra casa. Acho que foi a expressão descontraída de quem costuma comprar, amiúde, postas de cherne por 27,89 Euros cada, que me tirou do sério. Aquele senhor, inadvertidamente claro, fez-me sentir pobre e desabençoado por Deus. Eu, não só teria de comprar duas postas e meia daquele peixe que, neste caso corresponde a cerca de 69,725 euros de investimento - lamento crianças, não me é possível - como, pior, tive que esperar cerca de 7 minutos ao abrigo da senha «para amanhar» azul deslavado, por um peixito de cor negra mal amanhado, por uma negra. Não é racismo, é pobreza! E pobreza, não é não ter poder de compra. É não ter opção!
Por fim e para que fique bem claro: - Não guardo ressentimentos de qualquer género quer para com as senhoras de tez escura, quer para com o cherne que, apesar de retalhado em mil postas de 27,89 euros cada, também tem sentimentos!
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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Diz-me quem sou...

Quem me conhece relativamente bem, sabe que adoro escrever - e que, portanto, assumo-me como um animal da escrita. Quem me conhece mesmo bem, tem consciência, no fundo, de que sou apenas um animal.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sobre o leite

O leite deixou de ser uma coisa que as vacas produzem para amamentar os vitelos, passando a ser algo extremamente essencial para os seres humanos. A tal ponto que o não consumo de leite condena qualquer pessoa a padecer de osteoporose, descalcificação, pé de atleta, olheiras... Somos mamíferos, é certo. Mas deverá chegar o dia em que somos desmamados.

Recordo-me que, quando era miúdo, só havia um tipo de leite: era o... leite. Hoje em dia, levamos com leite meio-gordo, leite gordo, leite magro, leite especial, leite enriquecido, leite com mais cálcio, leite com menos cálcio, leite com vitamina B, leite para mulheres, leite para idosos, leite para homens baixos... De que tipo de vacas sai isto tudo? Há uma vaca para cada qualidade de leite? Chegou-se ao ponto de termos leite de soja... que nem sequer é um mamífero. Eu já vi soja. E não sei como é que aquilo é mugido.

Tudo isto só acontece porque deixam os tipos do marketing andar à solta. Há uns tempos, houve a campanha de um produto de maquilhagem que tinha um efeito «pestanas falsas». Questão: quem quer um produto de maquilhagem com efeito «pestanas falsas»? No fundo, é como comprar uma pasta de dentes com «efeito dentadura». Ou um gel com «efeito peruca».

Ou então, numa analogia mais profunda, é como ver um filme pornográfico sem pornografia. Isto é: o canalizador chega e trabalha meia-hora nos canos (da casa). E há um tipo com uma vassoura na mão a prometer que, mais cedo ou mais tarde, a canalização da dona da casa também irá ser desentupida. Mas, quando damos por isso, já está a passar a ficha técnica. E o único resultado é um lava-louça que escoa muito melhor.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Decepção

Ai se ela me fizesse sentir vivo, acordado, alheado.
Perturbado e tenso, enojado ou agradado, excitado!
Com a boca seca. Num burburinho.
Se me enevoasse o olhos de luxúria, se me fizesse estremecer de excitação, se me tirasse a razão...
Mas não.
Não me tira do sério, não me faz sonhar, não me obriga a voar, baixinho sobre um prado verdinho, lá ao longe, fresquinho...
Mas não.
Nem sequer me faz lembrar alguém que eu conheça e me desvaire a cabeça.
Não me provoca erecção.
Não estimula a imaginação.
Nem me faz reacção!
As pernas não me tremem, o coração não palpita e a batata frita, essa nem vê-la, de tão miudinha que está.
Nem arrepios nem suores frios.
Nem é carne, nem é peixe. Nem o que é sei dizer...
Se ao menos me tocasse no peito, e me ligasse o botão do desejo,
Já era um feito! Mas nem para isso tem jeito.
E no final, num canto da boca não faço, nem um trejeito nem um esgar, um sorriso ou um olhar...
Ao menos de espanto!
Mas não.
E é por essa razão que de pé, de frente para o povo que rejubila, assumo perante tão vasta nação:
Que não comprarei a segunda edição,
Da Playboy Portuguesa!

terça-feira, 5 de maio de 2009

{divagações}

Há vidas que cabem dentro
de uma garrafa, de tão cheias
(ou vazias) de derivas e naufrágios...