quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

tinto

Ficando eu encarregue de comprar o vinho para amanhã, vou agora ao supermercado e tiro três garrafas, mesmo das mais baratinhas, a um euro e tal, que eu não sustento bêbados. E fico a pensar: 'Foda-se, será que três garrafas chegam? E se aqueles filhos-da-puta se metem a beber e depois acaba o vinho?'

E então volto para trás (repito: volto para trás) e vou comprar mais uma garrafa. Isto é ou não é simpático da minha parte, assim preocupado com o bem-estar dos que me rodeiam?

Chego a casa, pouso os sacos e o que é que acontece? Parto uma das garrafas no chão.

É sempre isto. É a história da minha vida, meus caros. Sempre que decido ser simpático, fodo-me sempre. Sempre. Não escapa uma. Mas se vou pela antipatia, fodo-me também. De modo que não sei bem para onde me virar.

Está tudo bem.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Natal invertido





A corrida às compras, os enfeites e a própria comida (doçaria) típica não alimenta em mim o Natal. Nada disto me faz sentir que estamos no Natal. Aliás, tudo isto me stressa de uma maneira cansativa e que só me apetece deitar para trás das costas e esquecer ou dar um salto em frente para passar rapidamente este frenesim que em nada cheira a Natal.
Já aqui falei do meu Natal de adultos e que continua a ser a sua essência na noite de 24 para 25. E dessa essência fazem parte as prendas, a toalha alusiva e a comida/doçaria típica. E isso sim alimenta em mim o Natal.
Isso sim me faz sentir que é Natal porque tudo está contextualizado em 14/15 corações e 14/15 olhares , num misto de êxtase por estarmos juntos, de dor pelo que cada um passou e que todos passámos e de melancolia porque a alegria é, no coração e olhar de cada, invertida por uma profunda tristeza que se procura controlar a todo o custo.
Somos felizes, mas também sentimos dentro de cada aquelas dores que abalam a felicidade do espírito... somos alegres invertidos ou tristes invertidos...
Também somos personagens invertidas e os mais velhos abrem as prendas que um Pai Natal pequenino nos deu... Julgo que precisamos da inversão para nos lermos tão bem uns aos outros e partilharmos as prendas, os enfeites e os doces que trazemos para o nosso Natal invertido...

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O jogo alimenta a esperança

Uma amiga que muito prezo raspou duas coisas destas (valor do investimento: 3 euros cada). E, numa delas, foi presenteada com 5 euros. Mas, durante o processo de «raspagem», surgiu a dúvida: «não percebo porque tenho um Pai Natal e um "B" ao lado». Depois, anunciou, eufórica: «mais 5 euros!». Pensei: «foda-se, está com sorte! Queres ver que é hoje que me convence a passarmos a noite bem juntinhos?!». Falso alarme: «por um símbolo, não me sairam 50 euros», confessou ela. Pena. É que dormia mesmo comigo (por muito que me custasse). E ainda me pagava um jantar à luz de velas.

Desmontando mais mitos

É irónico que Pinto da Costa (72 anos) tenha assumido o "namoro" com a brasileira Fernanda Miranda (23 anos) quando assistiram à peça teatral «Mendes.Come».

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Imaginário




Há elementos (para não dizer pessoas, coisas, lugares e afins) tão próximos do nosso imaginário que se fossem mais próximos estragavam-nos o imaginário. Com o "próximos" quero dizer com uma correspondência quase precisa à que se encontra no interior do nosso imaginário e não tanto perto deste (até porque é difícil definir proximidade física do nosso imaginário - gosto de acreditar que ele está em toda a parte e não limitado a uma proximidade de alguém/algo e afins).
O imaginário revela em muito a riqueza de cada um e o desafio está no encontro, ou direi melhor, reencontro do que está no imaginário e do que está na realidade física. E quando esse reencontro acontece dá-se uma sensação de exaltação, quase a rasgar o histerismo porque o que fazia parte do nosso imaginário afinal existe! É que existe mesmo!!
Mas é aqui que se perde um pouco a inocência de cada um... se existe - e vimos com estes olhinhos que a terra há-de comer que existe - então já não faz parte do nosso imaginário; se não faz, perdeu todo o encantamento próprio de um conto em estava inserido no nosso imaginário e passou a pertencer a um contexto aquando elemento real, afastado da fantasia que o envolvia e, muitas vezes, absolutamente descontextualizado, na realidade, do que era no imaginário... e com isso, da exaltação, fica um sorriso que rapidamente passa a um rasgar forçado dos lábios e, depois, a uma tristeza, desilusão e vazio - não era como imaginávamos e o que fazia parte do nosso imaginário morreu poque passou a existir no real e longe, muito longe do que imaginávamos...
Talvez seja, então, esta a razão pela qual as crianças acham os adultos seres grandes e cinzentões, sem contos para os alimentar e com um imaginário cada vez mais velhinho, que morre a cada dia que passa.
E talvez seja, também, esta a razão que, quando um adulto encontra um elemento real próximo do seu imaginário, julga que é impossível estar a acontecer e... na negação da sua existência real - fora do imaginário - prefere voltar costas e seguir em frente, escudando-se em desculpas que não entram nos contos do imaginário, a correr o risco de se poder desiludir e, depois, de se apaixonar mais ainda do que pelo imaginário.

Crítica literária

Há uns dias, de passagem por uma superfície comercial apinhada de gente, dei de caras com uma montra de uma livraria (onde se vendiam livros e tudo, vê tu bem!). Num olhar de soslaio, lá estavam as grandes obras contemporâneas: «Portugal revisitado» (pelo chef Chakall), «Bimby: receitas com história», «A minha casa é o teu coração» (Margarida Rebelo Pinto), «Era uma vez... Os contos favoritos de Fernando Mendes», «Organiza festas com a Estefânia» (essa mesma, a da Lazy Town, de quem todos os miúdos gostam e invejam a falsa cabeleira rosa choque)...
Mas, no meio de tanta proposta literária, houve uma obra que reteu a minha atenção (e que estava bem lá no topo, entalada entre «Liderança: as lições de Mourinho» e «Aprender a jogar futebol: um caminho para o sucesso»). A coisa em causa assume a designação de «As manobras de Pinto da Costa», cujo autoria, dizem-me, pertence a um jornalista chamado Marco Alves. Disclaimer: sou bem capaz de conhecer o autor em questão - mas não é por isso que deixarei de exercer o direito à opinião livre ou de me escudar a dar o meu parecer insento sobre os conteúdos tratados neste manual.
E do que trata, em concreto, «As manobras de Pinto da Costa»? Pelo que li - e não foi pouco! - estamos perante uma obra com um objectivo nobre: «desmontar um mito». São, parece-me, «35 anos de guerras, contradições, jogos de bastidores e estratégias sinistras». Primeira observação: fala-se pouco de «fruta» e «café com leite». Não gostei dessa ausência descarada (e propositada?) de pormenores sórdidos. Entre engatar a Carolina Salgado ou comprar o livro, esta última hipótese seria certamente a que me daria menos trabalho (e a que seria menos dispendiosa). Teria gostado de saber, por exemplo, a que horas se deitava Pinto da Costa; que ração dava ao cão; se gostava de meias de leite mornas ou a escaldar...
Segundo ponto: as tabelas que servem de enquadramento aos textos não ajudam à leitura. Faltam-lhes cor (ou as cores escolhidas não são as melhores). Neste aspecto, o livro peca por não ter recorrido a um decorador de interiores. É pena.
Terceiro ponto: ao ler o livro, fico com a ligeira sensação de que há uma parte a.c/d.c. (antes do cafézinho/depois do cafézinho). Não sei porquê, mas, lá mais para as páginas finais, soa a falta de cafeína. Não só pela forma de escrita, mas também porque há menos citações do Record.
Quarto ponto: porque é que Pinto da Costa não foi confrontado com os «mitos desmontados»? O autor tentou, ao menos, marcar um encontro com a Carolina? Saberá Marco Alves, porventura, o nome de um dos cães de Pinto da Costa? (por outra: será que o jornalista está a par de que Pinto da Costa dispõe de animais domésticos?).
Quinto ponto: em suma - e apesar de ainda não ter concluído a leitura de «As manobras de Pinto da Costa» (e não obstante as considerações feitas nas alíneas anteriores) -, creio que este manual se assume como uma mais-valia, na medida em que reúne alguns dos principais artigos do Record, A Bola, O Jogo e afins (confesso que me faltavam alguns exemplares na colecção de edições desportivas).
Avaliação final: 8,5 (numa escala de 0 a 10). Justificação: porque sou sensível, também tenho o meu lado Cláudio Ramos e alimento a esperança de engatar o autor (isso seria, seria montar um verdadeiro mito).

domingo, 19 de dezembro de 2010

A varanda de Romeu e Julieta



Podia ser, não podia? A varanda de Romeu e Julieta! Não importa que não seja; importa que é uma varanda e que, como tal, será sempre capaz de retirar de dentro de nós um suspiro.
Tenho genes do Norte. E do Norte, o que me mais me lembro, são as varandas. São aqueles Verões quentes, demasiado abafados, que só a sombra de uma varanda nos salvava ou as escadas que a ela davam acesso e que ocupávamos, ao fim do dia, para comer um gelado.
É uma outra perspectiva romântica de "varanda", não é? Quem nunca foi feliz numa varanda?

sábado, 18 de dezembro de 2010

Anjos (meus)



Anjos...
Gosto da sua simplicidade e imponência.
Gosto de acreditar neles, quando já acredito em quase nada.
Gosto da capacidade de despertarem em mim histórias que ouvia quando era criança... e por momentos esqueço a vida de adulta e sinto um colo de conforto.

(Foto by Zhu Di, Photoshop by Makira)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Manobras


Pinto da Costa encaixa no perfil dos 'manobradores'. A categorização não é de agora e fica a dever-se essencialmente à forma como tem gerido o FC Porto. Uma pesquisa no Google, por «manobras Pinto da Costa», surte 21.800 resultados; e outra pesquisa por «manobras gruas» apresenta apenas 3920 resultados. É esta a diferença que separa um mundo e outro. Como se vê, até nisto a honestidade fica a perder. Mas nem tudo é mau. Que se saiba, Pinto da Costa (ainda) não se meteu noutras manobras mais complexas. Como estas. Isso sim, seria o cabo dos trabalhos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Letras

Tira a camisa, agarra-me a quente, deixa-me tonto, põe-me doente.
Sente o meu cheiro, enquanto me apertas, bate-me agora, vê se me acertas.
Enquanto eu me agarro, mãos na cabeça, fazemos no carro, tudo depressa.
Usa as tuas mãos, usa o teu corpo, às vezes parece que está tudo louco...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

esparregado

ah, os meus pequerruchos desataram de repente a escrever que nem doidos, e escrevem bem, pô, quase sempre não se percebe nada, porque escrevem para si próprios, com siglas e mensagens subentendidas, parece que a mandarem recados, mas não faz mal, é como as missas em latim, a gente não percebe nada mas soa muito bem, bom natal, que nosso senhor jesus cristo vos alumie o caminho, gosto muito de vos ter por cá, tenho mais uma história para vos contar, daquelas boas, mesmo boas, que, além de serem boas, são boas, estava um homem ali no colégio militar com uma cabeça tão vermelha, tão vermelha, pô, mesmo vermelha, e olhei para os sapatos e eram uns ténis vermelhos, de modo que o calçado fazia pendant com a cabeça, resta saber se foi um acaso do destino ou se o gajo, quando usa ténis verdes, também muda a cabeça para verde para fazer pendant, não é uma boa história?, eu acho.

Um pouco do meu lado 'Wikileaks' (ou algo de mim que perdi, procurei e não encontrei)

Já percorri todas as ruas e vielas, interroguei velhos amigos, segui-lhe o rasto no ciberespaço. Vasculhei os meandros do Facebook (conheço apenas duas pessoas que, nos dia de hoje, não têm Facebook: ela e o Miguel Sousa Tavares [e tirando outros dois ou três sujeitos - que, tenho a certeza, acabarão por ceder; será apenas uma questão de tempo]). Fui ao ponto de pesquisar o seu nome no universo da Wikileaks. Porque, no fim de contas, um 'desaparecimento' assim só pode mesmo estar classificado secretamente (ou sob o domínio do segredo de Estado). Por ora, chamemos-lhe KF (as verdadeiras iniciais do nome próprio e apelido). Morada e destino incertos.

Na altura - e já lá vão mais de 14 anos (!!) -, conhecia-lhe cada canto da casa onde habitava (e nunca lá entrei). Mas fiz mais rondas do que o melhor dos melhores guardas-nocturnos do país e arredores. Até a paisagem (a barragem mesmo ali ao lado, a doce brisa a latejar nos pinheiros bravos, o eterno canto apaziguador das garças) abonava a favor daquela incursão - sempre propositada e cheia de esperança. Minto: a esperança tinha morrido logo à partida; mas fechei os olhos às circunstâncias e preferi entrar num jogo onde eu estava claramente em desvantagem (eu sabia; ela também o sabia - e ambos tinhamos pena que assim fosse).

Ironia das ironias: passados 14 anos, vi a irmã dela, pelo menos, umas 4 ou 5 vezes. A última ocorreu há coisa de 2 semanas. E, por breves instantes, reconheci os traços de KF (ainda que roubados). A irmã pouco mudou. Acredito que KF também.

Muito ficou desses tempos. Os papéis permanecem intactos. A tinta ainda está bem saliente e conserva toda a ternura que nutriamos um pelo outro. Como se a sua letra me tivesse tatuado a alma. Soa a poesia de fim de esquina, mas nada é mais verdadeiro. Porque, afinal, não é uma paixão que define um homem, mas sim as paixões. É a distância que vai do singular ao plural que faz toda a diferença. Para os que pensam o contrário, apenas vislumbro uma curtíssima reflexão: que se fodam. Porque, esses, não conheceram verdadeiramente KF como eu conheci. Tão diferentes e tão iguais. Tão próximos e tão distantes. Ainda há pouco estávamos ali e, agora, estou eu aqui e ela sabe-se lá onde.

Maldito Facebook. Estúpida Wikileaks. Quero mais é que as garças se afoguem e os pinheiros acabem transformados em pasta de papel. Ninguém sabe onde pára KF (nem o melhor dos melhores guardas-nocturnos). Se torno a ver a irmã, afogo-a na barragem. Foda-se.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Segredos que nem sabem explicar

Com 4 canais e, às vezes, à falta de um filme ou de um livro apanha-se com programas de entretenimento um pouco estridentes... Trata-se da Casa dos Segredos. E só decidi falar aqui disto por algo que me deixa particularmente confusa.
Pelos vistos, um concorrente tem um segredo sobre experiências paranormais e, pelos vistos, a revelação desse segredo teve reacções que o concorrente não gostou (julgo que assobios e risos). A apresentadora justifica isso pela forma como ele explicou o que lhe tinha acontecido. E ao que parece não foi dramático o suficiente a contar.
Pelo que percebi, em duas situações de repouso, o espírito saiu do seu corpo e tinha uma luz a puxar-lhe. Neste processo conseguiu ver o seu corpo deitado.
Bom, discordo com a apresentadora porque realmente não acho que estas experiências tenham de ser dramáticas... longe disso!!
Mas discordo completamente do concorrente quando diz que por causa destes episódios acredita que tem um dom e é por isso que a vida lhe corre a 100%. É de uma ignorância que me deixa confusa e até irritada!! Ainda por cima porque podia com a revelação deste segredo fazer uma tarefa de responsabilidade na nossa sociedade, abrindo mentes, mas só acabou por gerar o ridículo à volta de experiências paranormais.
Para quem não sabe, na maior parte das vezes em que sonhamos a nossa alma sai do corpo. Azar dos azares, não temos consciência ou lembramo-nos dos sonhos e nem distinguimos que alguns deles implicaram uma viagem a sério da nossa alma, afastada no nosso corpo. Mas estas saídas, acontecem também em outras situações, mais "dramáticas" como experiências quase-morte ou mais relaxantes como a meditação ou o repouso. Há certas condições por vezes no nosso estado (físico, mental, emocional) que, numa simples situação de repouso, pode despoletar a saída da nossa alma e nós termos conscientes do que está a acontecer. De facto, o físico fica um peso morto e paralisado e começa num estado dormente até recuperar toda a sensibilidade e movimento.
São situações muito comuns e se acarretam um dom... então todos temos esse dom porque em sonhos essas experiências são realizadas vezes sem conta!
Que tristeza e revolta quando alguém tem uma saída da alma consciente e nem sabe o que significa, como pode acontecer, e coloca isso em praça pública da maneira mais errada e ignorante possível, achando-se detentor de um dom!!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Palpitações: um relembrar de nós

Ao que parece andamos todos com palpitações! E palpitações no sentido físico do termo, como quem diz "o coração bate velozmente e quase que nos sai pela boca".
Devíamos encontrar uma justificação bonita, como quem diz, espiritual para a questão. Talvez porque nos sentimos cansados do motivo... a culpa é sempre do maltido stress!... E também não vemos algum romantismo nestas palpitações: não se trata de um amor que faz palpitar. O amor faz cócegas na barriga e não provoca palpitações (coisa que causa estranheza pois amor é coração e coração deveria ser palpitação). A verdade é que somos muitos a sentir essas palpitações... muitos, e pelos vistos, pouco românticos e bastante stressados!
Mas, procurando outras explicações mais "bonitas", encontramos na wikipédia a seguinte contextualização das palpitações: "O termo palpitação designa a sensação de consciência do batimento do coração, que habitualmente não se sente."
Ora, aqui está algo capaz de esboçar um sorriso e de tranquilizar todos nós seres mais palpitantes. Afinal, as palpitações têm o seu lado bom - fazem-nos ter consciência de que estamos vivos! De que o nosso coração está a bombear e não estamos adormecidos. As palpitações despertam-nos do sentido automático que, por vezes, a vida adquire e fazem sentirmo-nos.
Talvez isso signifique que a frequência das palpitações e o número cada vez mais alargado de pessoas que afecta é indicativo de que andamos muito adormecidos, ou melhor, muito esquecidos de nós e que precisamos de nos relembrar...

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A perfeição ou a idealização?

Ninguém é perfeito! E eu estou longe da perfeição. É difícil compreender isto? Não! Assim dito, é fácil. Todos sabemos, estamos fartos de saber, que ninguém é perfeito.
Ora, se o sabemos por que é que insistimos que as pessoas devem ser perfeitas? Por que é que ficamos aborrecidos quando nos "contrariam" e não aceitam na "perfeição" o que idealizámos??? E é isso... o que idealizámos. Sabemos que ninguém é perfeito, mas ansiamos, esperamos e até acreditamos que a perfeição existe e que passa por corresponderem aos nossos ideais!
Estamos habituados a que as outras pessoas esperem de nós as respostas/reacções típicas/normais, ideais... aquelas a que nos habituámos, que vimos nelas a perfeição dessa pessoa e que se tornou nesse ideal. Mas o que acontece quando viramos o jogo? Quando reagimos de forma diferente à perfeição que os outros nos conhecem? Quando dizemos chega a situações em que sempre demos tudo para corresponder àquela perfeição, mas agora não conseguimos mais manter a força em diferentes direcções, menos numa... a nossa!...
Acontece que deixamos de ser perfeitos, deixamos de ser a representação dos ideais, deixamos de ter forças na nossa direcção porque já não as mantemos nas outras direcções. Deixamos de alimentar o cordão umbilical de certas relações e, assim, elas morrem porque o fluxo dos alimentos seguia apenas numa direcção... a delas.
Passamos a ser imperfeitos e como tal já não temos um olhar demorado em nós. Temos a ausência de uma presença que mantinhamos viva, mas que desaparece, deixa de estar, porque nós já não conduzimos o oxigénio... deve ter ido procurar outra fonte de vida e abandonou-nos sem antes perguntar se precisávamos do seu oxigénio...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

olá a todos

porque é que vocês deixaram de escrever aqui? escrevem muito aí e faltam-vos forças para escreverem aqui? é isso? tenho pena. estão a fazer suplementos de natal? é isso? tenho pena. isto a mim continua-me a aparecer aqui no blogger, a modos que, derivados de, de maneiras que, prontos, aproveito e preencho a lacuna, preencher lacunas é bom, quando é que vêm cá a casa para o tradicional jantar de natal?, bom, estive dois meses e tal, provavelmente foram quatro, sem varrer a casa, de modo que outro dia pus mãos à obra e foi o que se segue.

isto assim não se tem noção do tamanho do monstro.

atentemos nas provas que se seguem, penso que mais esclarecedoras:
isto não vos parece um coelho? porra, se isto não é um coelho...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ah

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Porque as verdades têm de ser reveladas

Docinho, Laranjinha, Cerejinha, Queque de Amora e Gelado Arco-Íris. Estas são as personagens que integram o universo da afamada série «Docinho de Morango». Trocado por miúdos: a Docinho (de Morango) é a figura central deste verdadeiro 'gang' defensor das boas maneiras, da biodiversidade, da conservação das espécies e causas afins. É uma miúda verdadeiramente humanista e com aversão aos atropelos da liberdade individual dos cidadãos (uma espécie de Carvalho da Silva, da CGTP).

Importa frisar que a Docinho entrou-me em casa pelo televisor adentro (canal Panda), captando todas as atenções do ser de 3 anos que se encontra hospedado na minha singela habitação. O vírus dissipou-se e derivou para outros formatos. Resultado: fui obrigado a adquirir (para já) dois livros que contam as atribulações da tribo da Docinho. Lado positivo: as ilustrações são boas (situadas algures entre o estilo barroco e o maneirista, embora por vezes um pouco abstractas), o texto não apresenta incorrecções e, regra geral, a Docinho e as amigas envergam vestes curtas.

No entanto, há um lado obscuro e real presente na ficção da Docinho de Morango. Vejamos: desconhecem-se os progenitores da Docinho e das suas amigas; não se sabe a origem de qualquer um dos elementos do grupo; na maioria das histórias, dormem todas juntas; não se lhes conhecem namorados; e, em algumas histórias, foi introduzida uma personagem do sexo masculino.

Este último pormenor é determinante, pois revela toda a influência do 'lobby' gay no mundo que nos rodeia. Aquele rapaz (que, na edição «Docinho de Morango vai à praia», segura uma bola com a cores oficiais do movimento GLS) é a tipificação do indivíduo marginalizado, que jamais consegue impôr-se junto dos seres do seu género. Olha-se para ele e nota-se que já há ali qualquer coisa de José Castelo-Branco. Também pode acontecer que a minha teoria esteja completamente errada. Afinal, quem me garante que o cabrão não anda a montar a Docinho, a Laranjinha, a Cerejinha, a Queque de Amora e a Gelado Arco-Íris? Arrisca-se a ficar glicémico. Mas fode que se farta.

Na imagem: a turma da Docinho de Morango. Do lado superior esquerdo,
é possível avistar a presença do único rapaz que integra o grupo (neste
caso, o que segura uma bola, junto à preta do 'gang').

Settore G

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pai...

... tenho saudades de te ouvir chamar-me filha.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

pergunta

mas eu posso continuar a escrever aqui? é que isto não me desaparece aqui do coiso do blogger.

A diferença entre o que fomos e o que somos...

...está apenas na distância do tempo. Acordei esta manhã com a frase a zumbir-me nos ouvidos. Apareceu, assim, mesmo sem ter sido solicitada. Talvez motivada pelo reencontro, durante uma noite de insónias em que deambulei pelos meandros das redes sociais, de pessoas com quem partilhei as brincadeiras de infância e os bancos da escola. Gente que cresceu, mesmo em paragens longíquas, da qual há muito não tinha qualquer notícia. É o encanto do mundo moderno: vasculhamos identidades conhecidas e convidamo-las a entrar em casa. Nunca o meio virtual foi tão real.

Olhamos para as fotografias dos perfis e espreitamos as frases inscritas nos murais. Estão lá restícios de personalidades que já conhecemos. Mas o mundo é composto por mudança - e as pessoas também. No meio de traços que ficaram, há outros que se acrescentaram. A sensação de descobrir o que há de novo em alguém (sabendo boa parte daquilo que já foi).

E foi assim, na espuma da madrugada, que reencontrei a Marina (emigrada no Luxemburgo), o César (que chegou a presidente de Junta de Freguesia), a Carla (de quem cedo desisti de lhe fixar os inúmeros namorados), do Luís (fechou o bar e é agora camionista, por essa Europa fora), o Rodrigo (diz que é feliz na Holanda - eu acredito e imagino, em parte, o porquê), do Moita e da Soraia (ex-companheiros de trabalho que, hoje, fazem das paisagens de Cabo Verde o cenário ideal para grandes reportagens - e ainda tiveram tempo para casar e ter um filho)...

Cada nome revela histórias de vida, tantas vezes sublinhadas por encontros e reencontros. E se dúvidas houvessem de que a vida teima em imitar a ficção, há uma questão que, durante vários anos, permanece sem resposta: o que é feito da Katiana? Será que, entre aquilo que foi e que hoje é, vai uma grande diferença? A vida tem sempre algo das histórias com um final em aberto...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Ser fecundo ou não, eis a questão!

Supondo que sou católico, praticante ou não. Supondo que o leitor também é. Considerando que Sócrates - o pseudo-ministro- sempre o foi, e tendo quase como certo que a escritora pseudo-ministra-da-educação o é, não compreendo.

A Bíblia Sagrada, nas suas múltiplas edições e reedições, reconhecida best-seller após a morte de uma das suas personagens chave, o famoso Jesus Cristo, estando actualizadíssima como sempre esteve desde os tempos mais remotos e imemoriais diz, ipsis-verbis, em Génesis, capitulo 1 versículo 28, o seguinte: “Ademais Deus os abençoou e Deus lhes disse: - Sede fecundos e tornai-vos muitos e enchei a terra (…)”.
Eu cumpri. Fui fecundo e gerei muitos filhos e quase enchi a terra. É exagero, claro. Mas o facto é que dei o meu contributo e segui os desígnios de Deus.
Só não compreendo porque razão é que sou castigado, todos os anos por esta altura e com tendência a agravar a sentença. Sempre achei que Deus, o altíssimo sobre todas as coisas, como a designação indica, estaria, hierarquicamente falando, acima de qualquer ministro, mas não, Deus ordenou que se fizesse e a ministra, castradora, troca funções com o Soberano e pune implacavelmente. Vejamos como foi:
Tenho 3 descendentes menores de idade, 2 no 7º ano e 1 no 10º ano, todos na mesma escola pública.
- 6 Equipamentos para ginástica – 90€
- 2 Equipamentos para dança – 35€
- Valor a pagar para despesas várias (seja lá isto o que for), a pagar no acto da matrícula -126€
- Lápis, canetas, cadernos, compassos, transferidores, etc, etc, etc, etc… … … … ETC!!! – 75€
-Livros – quase 900€ (sim, novecentos euros)
Total aproximado para 3 crianças no inicio do ano lectivo: 1226€


N.R.: Os livros são, quase todos, entregues em pacotes compostos por: - o livro de matemática; as fichas de matemática; os exercícios de matemática; as soluções dos exercícios de matemática; as soluções das fichas de matemática; a puta-que-pariu-os-senhores-ministros- e-os-lobby´s-com-as-editoras-e-com-os-professores-que-escolhem-os-livros-sempre-diferentes-todos-os-anospara-eu-pagar-e-para-me-castigar-por-ter-seguido-o-que-manda-a-Biblia!!!!

Resta-me apenas um singelo,

Amén

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Está tudo bem

Vim aqui fazer valer a prerrogativa que me foi dada de me introduzir no espírito da rua, ou lá como é se diz o nome disto, está tudo bem por aqui, espero que esteja tudo bem por aí, o tempo por aqui e por aí está instável, engraçado como partilhamos o mesmo tempo, giro, pá, partilhámos o mesmo curso e agora partilhamos o mesmo tempo, excepto esse vosso outro compincha de blog, que não sei em que noites tirou o curso, está bonito está, olhem, já está tudo bem com a minha boca, que andou aqui com uma ferida, mas já passou, outro dia estava a comer um papo-seco do século vinte e um, vulgo um croissant brioche com queijo e fiambre, vulgo croissant misto, sem manteiga, disse-me a gaja que faço bem em não pedir manteiga que é por causa das gorduras saturadas, saturado ando eu, mas isso é outra conversa, e estava uma brasileira a olhar fixamente para mim do outro lado do café, confesso que achei engraçado, sabiam, eu acho que era brasileira, pois que bem a mirei também, parecia-me ter boas coxas, porém com apenas um metro e meio, se associadas ao tronco e à cabeça, de qualquer modo eu, depois de fumar o cigarro, atirei com a mochila para trás das costas e fui-me embora, não dou confianças a miúdas, se ainda fosse a Scarlett ou a Cate ainda perguntava 'tudo bem?, outro dia, contei isto eu hoje à Makira e conto agora a vocês, estava em casa de uma pessoa que vocês conhecem e ela também vos conhece, estava então eu a fumar ao pé de um vaso que tinha um pinheiro, bravo, acho eu, vi lá uma erva daninha grande como o coiso, e não fiz mais nada e arranquei-a, não sem algum esforço, isto porque foi só com uma mão, porque com a outra estava com um cigarro e um café, e então aventei (regionalismo) a erva daninha para trás do vaso, e no dia seguinte a legítima proprietária do vaso manda-me uma mensagem, onde, educadamente, me manda foder, na medida em que a erva daninha era uma macieira, uma macieira?, o continente do colombo tem uma senhora muito gorda a trinchar frangos, trincha frangos tão bem como as gueixas japonesas podam roseiras, uma limpeza, porra, que maravilha, aquilo é que está um casting bem feito, sim senhor, hoje em dia, que é como quem diz 'amanhã em atraso', há muitos locais de venda ao público de frango com trinchadoras magras, o que é claramente aborrecido, não me apetece mais isto, depois volto, ah, era para dizer ao senhor do granho, que escreve a dizer que tem duas talhadas de melão a prender-lhe o ventre, aliás, perdão, que tem a melancolia dentro dele, ou lá o que seja isso da melancolia, para mim a melancolia é prima do melão espanhol, é deliciosa, mas quem a come tem caganeira certa, dizia então ao senhor do granho que tenho em minha posse dois bídeos, um registado na casa onde durmo, o outro a andar de carrinhos de choque com seu rebento, bídeos, esses, onde, por acaso, mas só por acaso, está exactamente com a mesma camisola, uma vermelha assim rosa, só para dizer isto, quando quiserem voltarei, eu gostava, isto deve estar com erros, que escrevi de enfiada e não reli, mas como é para vocês...

Pôr-do-sol encarcerado

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Dentro de mim

A melancolia é a minha pátria; a tristeza o meu hino. Há dias assim. Por tudo e por nada. Às vezes, por bem menos do que aquilo que julgamos a mais. E, outras vezes, por mais do que convém. Não há meio termo [é como a vida: ou se vive ou se morre]. Nem sempre existe uma razão para o que quer que seja. E há alturas em que as razões só aparecem para justificar o que não existe. Andamos nós, na estrada da vida, sem olhar ao peão que nos passa ao lado. Arrancamos, paramos, aceleramos. O mundo está em piloto automático. Temos medo de o guiar [e preferimos que seja ele a guiar-nos]. Não passamos de um bando de cordeirinhos. E caminhamos, assim, de mansinho.
Inventamos medos. Metemo-nos dentro da câmara. E ainda abrimos a torneira do gás. Estamos tão anestesiados que nem lhe sentimos o cheiro. Arrancamos, paramos, aceleramos [enquanto os dias nos corroem a alma]. Repara só como um bom momento passa depressa. E, quando nem sequer acabou, já estamos a pensar que não perdurará para sempre. Porque o sofrimento está no nosso ADN; porque a saudade não está somente no dicionário - ela também percorre-nos as veias.
Sabes que a alegria também pode ser triste? Mas a tristeza, essa, nunca é alegre. Não sei se estou certo ou errado. Se queres que te diga, nem penso nisso. Apenos vivo. E, nos dias de hoje, isso já é muito mais do que aquilo que julgamos ser menos. Admito que ainda estou a tirar o brevet. No entanto, é um passo. Mesmo que o mundo siga em piloto automático, irei voar para outro lado. Acompanhas-me?

terça-feira, 29 de junho de 2010

Pátria

Gloria, gloria, corona de la Patria,
soberana luz
que es oro en tu Pendón.

Vida, vida, futuro de la Patria,
que en tus ojos es
abierto corazón.

Púrpura y oro: bandera inmortal;
en tus colores, juntas, carne y alma están.

Púrpura y oro: querer y lograr;
Tú eres, bandera, el signo del humano afán.

Gloria, gloria, corona de la Patria,
soberana luz
que es oro en tu Pendón.

Púrpura y oro: bandera inmortal;
en tus colores, juntas, carne y alma están.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Canções que vão, letras que ficam...


Fria a noite cai, severamente sai, guitarra na mão
Água e mel na voz, seguramente vai pelas pedras do chão
Formosa, mata a paz com o seu trinar
E dizem, tocando, que leva a voar
Em asas que as cordas dão, todo e qualquer gingão
Meu fado é sua canção

Canta por mim – diva da rua, não és de ninguém
Só ris negando a quem te quer bem
Canta por mim também

Canta por mim, dona do mundo
em noites fatais
Deixa-me
os olhos castanhos banais
Pobre, que não olhas que eu amo mais

Fria a noite cai, severamente sai guitarra na mão
Água e mel na voz, seguramente vai pelas pedras do chão
Formosa, mata a paz com o seu trinar
E dizem, tocando que leva a voar
Em asas que as cordas dão, todo e qualquer gingão
Meu fado é sua canção

Canta por mim, dona do mundo
em noites fatais
Deixa-me
os olhos castanhos banais
Pobre, que não olhas que eu amo mais

Canta por mim – diva da rua, não és de ninguém
Só ris negando a quem te quer bem
Canta por mim também

Canta por mim, dona do mundo
em noites fatais
Deixa-me
os olhos castanhos banais
Pobre, que não olhas que eu amo mais


(«Canta por mim», Carlos Coelho)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

E num instante tudo muda

Partes de uma vida suspensas por breves segundos. Bastou um olhar (despropositado) para parar o mundo e (re)ver cada peça do puzzle (mesmo depois de ele, há muito, estar desmontado e arrumado). Se este momento fosse planeado, jamais seria tão perfeito - tal como o conjunto do puzzle, de resto. Julgamos que a imagem que figura no puzzle já passou à história, está desactualizada, é insignificante. Pensamos que a pauta, mesmo sem a tal nota musical, pode ser tocada. Porque, sendo ouvida (e não vista), a música acaba por ser apreciada, sem repararmos na ausência da nota. É mentira. Não é possível iludir os ouvidos quando apenas se fecham os olhos.

O absurdo da situação ganha ainda mais importância (reparaste como não hesitei em recorrer ao termo 'importância'?) quando me fazes (re)ver o puzzle por uma segunda vez. Aqui e ali, tu e eu, separados por breves passos. Se não me tivesses lembrado do primeiro momento, isto quase que me soava a 'deja vu'. Mas não. Só (também) neste segundo (tal como no primeiro) instante, estivemos tão perto e tão longe. Mais estúpido é saber que nada disto faz sentido...

...porque isto é conversa que não nos leva (nunca nos levou) a lado nenhum. Como podemos nós voar se insistes, durante toda a viagem, em pensar no trem de aterragem? O problema foi que, mesmo antes da casa de destino, nunca paraste de pensar na casa de partida. O jogo estava viciado desde o início. E como eu gostava de o jogar. Não por o jogo - no verdadeiro sentido do termo - ser a minha predilecção. Mas antes porque eu, um peão à deriva, te olhei como uma rainha. Como seria se estivéssemos hoje, lado a lado, no mesmo tabuleiro?...

domingo, 13 de junho de 2010

Carta sentimental aberta ao gajo com o melhor blogue do mundo (e que está em África)

NA FOTO: Muzi, cão africano fotografado pelo dono do Acatar. Caro 'Zhu di': se era para isto, mais valia teres ido ao canil da União Zoófila (ficava mais barato e davas algum glamour aos rafeiros nacionais).


CARTA ABERTA
Meu bom palhacinho: escrevo-te esta prosa em jeito de missiva sentimental. Porque sei que precisas de mim como o Michael Jackson precisava de propofol. Permite-me, pois, discorrer algumas dissertações sobre vários assuntos que tens abordado no teu blogue (e que acompanho religiosamente por estas bandas). Vamos por pontos:
1) acho piada quando jornalistas como tu (ainda por cima gente que estudou ao meu lado - e, por conseguinte, bem formada e inteligente) desancam na Fifa por causa da má organização da coisa e blá, blá, blá... O que estavam à espera? Champanhe à chegada? Bonbons Mon Chéri? Só digo isto: «África (do Sul)»;
2) também acho piada aos jornalistas que se queixaram dos assaltos e que ficaram todos ofendidos porque a Fifa não tomou medidas. Olha, nem vou mais longe: «só nos últimos 4 anos, foram assassinados quase 400 portugueses na África do Sul» (e onde estavam os jornalistas nessa altura? Nem mesmo sentados na secretária devem ter escrito uma linha sobre o assunto...);
3) não se queixem tanto e cumpram o vosso dever. Imagino que a missão não seja fácil (tal como deve ser difícil para a África do Sul estar ao leme de um evento desta dimensão). Este Mundial é isso mesmo: um desafio. Para todos os envolvidos. E cada um deles deve responsabilizar-se pela parte que lhe compete. No final, que se tirem as ilações;
4) as Festas do Granho são no penúltimo fim-de-semana de Julho. Se nesta altura estiveres em Portugal, verás com os teus próprios olhos como se organiza um evento cultural e desportivo. Com frango do churrasco a sério (grelhado no carvão). Até te dou a honra de dançares comigo, em pleno arraial...
...e deixa-te de escrever posts sobre as casas de banho. É uma faceta tua de George Michael que nós não queremos saber.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Éfe

Na guerra da vida contra a morte ganha sempre a segunda, por exaustão. Talvez tenha sido assim que F partiu, era um lutador, sempre o foi, desde miúdo. Lutou, sorridente, durante vários meses contra a sua inimiga, a leucemia. Creio que a via como uma brincadeira, coisa de putos, um desafio. Desde muito cedo que se habituou a vencer desafios. O pai emigrou e deixou-o sozinho com a mãe e as irmãs, único homem na casa, portador da responsabilidade de carregar o apelido da família e fazê-lo perpetuar, F agarrou-se à vida com garras de estivador e seguiu a direito, sem medo. Um dia, vi eu, pela manhã, bem cedo, levanta-se da cama e trata da sua higiene pessoal, toma o pequeno-almoço, pega na trouxa e sai para a escola, sozinho. Era uma criança, mas não precisava de ninguém, já era homem. Tinha 9 anos. Dono de um humor singular, era um aluno exemplar, tinha boas notas e era um desportista admirado por todos, foi, várias vezes, vencedor de provas regionais de BTT, vendia saúde.
Na sua aldeia, ao passar, F era cumprimentado por todos, novos e velhos, e a todos, sem excepção, era-lhes devolvido um sorriso afável, franco. Da última vez que o vi, sentado na cama articulada do IPO do Porto, mantinha no seu semblante o ar de quem nada deve à vida e sorria, como sempre sorriu. Estás bem puto? Perguntei. Sorriu. “Estou!” Respondeu sem desviar o olhar do pequeno computador portátil onde, atarefado, mantinha uma acérrima conversação via MSN com algumas amigas que, segundo ele, não o deixavam em paz. Está a correr bem, estás melhor? “Sim, falta-me fazer mais uma sessão de quimioterapia e depois acho que volto para casa”, disse ele com acentuada pronuncia nortenha e com aquele à-vontade de quem sabe como se lida com a doença. “Só me custa ver o meu pai chorar”.
A sua grandeza enquanto individuo, meio-homem/meio-criança que, enfermo, arranja forças para reconfortar os pais, as irmãs, os tios, as tias, primos, vizinhos e toda uma romaria de visitantes chorosos que vinham, aos magotes, à visita das quatro, é notória.
Lutou, lutou sempre. Sei que sim. Mas houve um momento em que desistiu, exausto, baixou os braços dormentes do esforço e parou de sorrir. A morte, nesse momento levou-o consigo, vitoriosa.
Deus, por certo, quis vê-lo sorrir…
Adeus Francisco.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Gula & luxúria

Há pessoas que, para cairem nas boas graças de Deus, estão dispostas a apreciar ao vivo as divagações em latim de um idoso de 83 anos - e que sempre foi incapaz de se referir à pedofilia como um crime, preferindo chamar-lhe «pecado». Os fiéis calam e consentem, admitindo a ideia de que o abuso de crianças por parte do clero (isto sim, um verdadeiro crime de «colarinho branco») é uma mera «fraqueza dos homens». O número de casos vindo a público diz tudo: não é fraqueza; é, antes, uma tara doentia, punível e que marca para sempre todo aquele que é abusado.
O Papa tem todo o direito de se fazer passear no seu «papamóvel» por onde bem quer e deseja. Não lhe concedo é o direito - posto em prática por terceiros (e onde se incluem os que nos governam) - de fazer de uma missa o supra-sumo da existência humana. Gastar rios de dinheiro neste tipo de festival, fechar escolas e decretar pontes é uma imposição disfarçada (e abençoada). É, em última instância, uma afronta aos princípios morais e religiosos de quem é crente de forma diferente. É atirar areia para os olhos, fazendo-nos esquecer, por momentos, que o país está a bater no fundo e que é administrado ruinosamente por uma trupe que enriquece à custa do esforço alheio.
E o que fazer para contrariar esta tendência vertiginosa? Nada. Fazer qualquer coisa, dá muito trabalho. O povo não está para isso e sempre é preferível ir à missa e ver as rugas de Sua Santidade. Preferimos viver na ilusão e sermos embalados pelos cântigos religiosos, com uma boa dose de hóstias a reconfortar o estômago e a limpar o cadastro dos pecados.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Invasão extraterrestre

Dois seres alienígenas invadiram-me a casa. Vieram de nave espacial lá de cima e, quando dei por mim, já estava no meio deles, sufocado pelas malas, malas, malas e o caralho. Lado positivo: ainda bem que não renovei a assinatura do canal porno. Senão, em vez de ficarem um mês ainda iriam permanecer durante meio ano. Vá lá que, pelo menos, trouxeram pão. Integral (agora que penso nisso, acham eles que eu estou gordo??). Foda-se.
Tenho a casa virada do avesso. Não bastavam já os brinquedos, livros e o camandro. Ainda tenho de levar com dois aliens. Será que cabem dentro do saco do aspirador? É melhor não - sob pena de ficar com o electrodoméstico danificado. Talvez se simular uma queda acidental pelas escadas do prédio...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Foda-se! (é uma terapia, segundo os psicólogos)

Senão vejam...


O Foda-se!
de Millôr Fernandes

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de foda-se! que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se!? O foda-se! aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Me liberta. Não quer sair comigo?

Então foda-se!. Vai querer decidir essa merda sozinho (a) mesmo? Então foda-se!. O direito ao foda-se! deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Prá caralho, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que Prá caralho? Prá caralho tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas prá caralho, o Sol é quente prá caralho, o universo é antigo prá caralho, eu gosto de cerveja prá caralho, entende? No gênero do Prá caralho, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso Nem fodendo!. O Não, não e não! e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade Não, absolutamente não! o substituem.

O Nem fodendo é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral?

Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo Marquinhos presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicinio.

Por sua vez, o porra nenhuma! atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um PHD porra nenhuma!, ou ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!. O porra nenhuma, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos aspone, chepone, repone e mais recentemente, o prepone - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos. / Pense na sonoridade de um Puta-que-pariu!, ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer puta-que-o-pariu! dito assim te coloca outra vez em seu eixo.

Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso vai tomar no cu!? E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai tomar no olho do seu cu!. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus uando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: Chega! Vai tomar no olho do seu cu!.

Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai a rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios. /

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: Fodeu!. E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? Fodeu de vez!.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se ...


http://www.dominiofeminino.com.br/editorial/opiniao/jan_foda_se.htm

domingo, 14 de março de 2010

Ser amante...

Muitas pessoas têm um amante, e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam. Geralmente são estas últimas que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insónia, apatia, pessimismo, crises de choro, ou as mais diversas dores.
Elas contam-me que as suas vidas correm de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar o tempo livre. Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente a perder a esperança.
Antes de me contarem tudo isto, já tinham estado noutros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme: "Depressão"... além da inevitável receita do anti-depressivo do momento. Assim, depois de as ouvir atentamente, eu digo-lhes que elas não precisam de nenhum anti-depressivo. Digo-lhes que o que elas precisam é de um Amante!
É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem o meu conselho. Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa destas ?!". Há também as que, chocadas e escandalizadas, despedem-se e não voltam
nunca mais. Às que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico-lhes o seguinte: Amante é "aquilo que nos apaixona". É o que toma conta do nosso pensamento antes de adormecermos, e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso Amante é o que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.
Às vezes encontramos o nosso amante no nosso parceiro, outras vezes, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no desporto, no trabalho, na necessidade de nos transcendermos espiritualmente, numa boa refeição, no estudo, ou no prazer obsessivo do nosso passatempo preferido...
Enfim, Amante é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir vivendo". E o que é "ir vivendo"? "Ir vivendo" é ter medo de viver. É vigiar a forma como os outros vivem, é o deixarmo-nos dominar pela pressão, andar por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastarmo-nos do que é gratificante, observar decepcionados cada ruga nova que o espelho nos
mostra, é aborrecermo-nos com o calor ou com o frio, com a humidade, com o sol ou com a chuva. "Ir vivendo" é adiar a possibilidade de viver o hoje
, fingindo contentarmo-nos com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.
Por favor, não se contentem com "ir vivendo". Procurem um amante, sejam também um amante e um protagonista da vossa vida... Acreditem que o trágico não é morrer, porque afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver, por isso, e sem mais delongas, procurem um amante.
A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental: "Para se estar satisfeito, activo, e sentirem-se jovens e felizes, é preciso namorar a vida".

Texto: Dr. Jorge Bucay
Livro: "Hay que buscarse un Amante"

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Radiografia à alma

É aquela vontade súbita de agarrar em meia dúzia de peças de roupa, mais uns quantos acessórios de primeira necessidade e fazer-me à estrada. Acompanho cada palavra de quem partiu por longos dias, por paragens longínquas, e sou capaz se sentir os cheiros, os sabores, os aromas. Compreendo mesmo os que se encheram de coragem e partiram na companhia de si próprios. Não é egoísmo nem tão-pouco fugir do que quer que seja. É, antes, uma descoberta interior por via do contacto com outros mundos e outras gentes. E que falta isso me faz.
Por mim, seria agora mesmo. Desprender-me do conforto e viver cada dia no arame; sentir a fragilidade para conseguir ser mais seguro; andar na corda bamba para encontrar o equilíbrio; chorar para rir. A vida está a tranformar-se numa autoestrada que vamos percorrendo em modo piloto-automático. Qualquer dia, os acasos farão com que pisemos um atalho qualquer, de terra batida, e não sabemos sequer onde colocar os pés. Estamos cada vez mais amestrados. E isso não soa nada bem.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

É o nosso amor.

É o amor preto de tão queimado que está pelo fogo que arde.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

hoje vou fazer um post assim bem ao estilo do acatar, que é uma coisa que depois descrevo mais abaixo e o camandro

foda-se, não passa de hoje que eu vou fazer um post estilo acatar, que basicamente consiste em um gajo escrever, escrever, escrever e escrever, assim, sem pontos finais, e iniciar logo a prosa com letra minúscula que é só para chatear os puritanos e os broches que defendem mais a língua portuguesa do que as mãezinhas deles. e mesmo que eu faça pontos finais isso não interessa nada, pois os pontos não são nada a mais do que as minúsculas, e eis a razão porque também comecei esta frase com uma minúscula imediatamente a seguir ao pontozinho, está mesmo bem observado, não está?,

só que para isto ser perfeito eu tinha de colocar aqui uns impropérios do caralho, que é para o post ficar mesmo, mesmo, mesmo, mesmo parecido com o acatar, que é um blog feito por um tanso que, quando convida amigos para jantar em casa, não tem sequer cerveja em doses minimamente aceitáveis. se querem mesmo que vos diga, esse jantar pôs-me fodido da vida, até porque tinha sérias esperanças em ficar pelo menos com metade do recheio da casa, que é como quem diz 30 livros, nos quais se incluem o tal livro de âmbito comercial de 1909 ou lá o que era aquela merda. acho que já me estou mas é a alongar demais ou o caralho e é melhor pôr um ponto final nisto.

mas não sem antes dizer que o estilo acatar é-me familiar, juro que andei meses e meses a pensar nesta merda, e só cheguei a uma conclusão após ter passado por aqui, que é o blog do irmão lúcia. já sei que me vão dizer que o estilo não tem nada a ver e o caralho, mas a mim o panasca plagiador do acatar não me engana e a prova disso mesmo é o post que escolhi do irmão lúcia para dar consistência à minha tese.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Rua da saudade

No post abaixo, o digníssimo J. Madureira teve a bondade de ofertar umas palavras deliciosas, através de um comentário, que deixam qualquer bom garfo a salivar. Assim, sem apelo nem agravo, eis que a bela sardinha assada surge de rompante, a galope de um pão alentejano. Imagino-lhe (a sardinha) a entranhar-se nele (no pão), deixando um pequeno rasto com todo o sabor do mar. E lá está: a nostalgia. Sempre a nostalgia... Uma das melhores sardinhadas que comi (teria eu 7 ou 8 anos) aconteceu debaixo de duas figueiras centenárias, que faziam sobra à casa dos meus bisavós. Foi em pleno Verão, depois de uma manhã inteira dedicada à vindima. Ainda hoje, quando o cheiro da sardinha assada me invade as narinas, recordo esse momento (curto, mas intenso) com saudosismo. E surgem, por acréscimo, as saudades das tardes de Verão sem fim, das cabanas improvisadas à beira do riacho, os longos passeios de bicicleta onde se rodavam quilómetros e quilómetros...
Era uma vida saborosa - tão ou mais que a própria sardinha assada. Ainda hoje, quando posso, volto ao local onde já fui feliz. Resta-me a bisavó (95 anos...) e as duas figueiras. A casa desmoronou-se. O chão de piso duro deu lugar às ervas daninhas. À volta, nascem agora casas de gentes de outras paragens, saturadas da cidade. O betão armado cresce de dia para dia. E mal sabem eles que, ali, naquele pedaço de terra, já desfilaram muitas vidas. Parte de mim continuará sempre lá e certamente irá perdurar mais do que as figueiras. Deve ser por isso - só pode ser por isso - que, quando volto ao sítio onde cresci (dentro de uma pequena gaiola, pendurada num galho de uma das figueiras, segundo relatos da minha bisavó), sou assaltado por uma estranha melancolia. Antes assim. Tentarei que a minha filha, quando tiver a minha idade, tenha também um sítio onde regresse e veja que valeu a pena. Mesmo muito a pena.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As marcas do tempo

O estalido da lenha que arde na lareira; a cafeteira com água para o café a aquecer no braseiro; o pão em riste, espetado num garfo, para ir torrando ao sabor do calor do braseiro; o velho transístor a captar a emissão radiofónica matinal, vinda de longe; um «até logo» ensonado dito ao avô e à avó; a estrada de terra percorrida na obsoleta bicicleta, companheira de toda uma infância, rumo à escola e a pisar o gelo que abafa a erva daninha junto à berma; os jantares de sábado em família; o frango do campo assado na brasa; a matança do porco durante dois dias, com tempo para a pesca e para a apanha de cogumelos selvagens; as festas na aldeia; o dia em que o circo vem à aldeia; as brincadeiras sem fim no dia em que a professora primária adoece; a vindima e os saltos no lagar noite adentro; a euforia das manhãs de Natal...
Uma imensa saudade do que já fui, daqueles que foram e de um tempo que já não volta.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Na espuma dos dias: intervalo breve

Faço aqui uma pausa no trabalho para não dar em doido. Não só por estar a escrever, neste preciso instante, sobre «patologia vulvar e vaginal na adolescência», mas também porque estou a fazê-lo sob o ruído ensurdecedor de um berbequim, manejado por um técnico que irrompeu redacção adentro, acompanhado por mais 2 ou 3 tipos com ar de maus. A entrada foi de tal forma rompante que me fez questionar, momentaneamente, toda a minha existência e das 237 mulheres com quem, até hoje, convivi de forma peculiar e excitante.
Fiquei com a leve sensação de que o homem do berbequim terá ficado com uma má impressão sobre a minha pessoa. Reparei na maneira desconfiada como olhou para o monitor do meu computador, onde constava - em fonte Arial, tamanho 12 - a seguinte mensagem:

«(...) não se pode recorrer aos meios utilizados habitualmente para as mulheres adultas (i.e., exame com espectro e toque vaginal), mas poderá ser, no entanto, necessária a vaginoscopia – que é dolorosa e, como tal, realizada sob anastesia geral».

Das duas, uma: ou ele pensa que sou tarado sexual (o que não deverá andar muito longe da verdade) ou então guarda más recordações da última vaginoscopia que realizou. Não é de excluir também a possibilidade de ele me querer como ginecologista da esposa. Basta olhar para mim e constatar que eu sou todo arte, sapiência, profissional exímio, médico. O meu nome não foi escolhido, aliás, por mero acaso; foi uma espécie de tributo a um médico que residia lá na aldeia, nos idos anos de 1970.
A (des)propósito: estou a ler actualmente um livro espectacular. Dá pelo nome de «A Tradução» (Pablo de Santis, edições ASA) e versa sobre um grupo de linguístas que se reunem num congresso em Puero Esfinge. Entretanto, são cometidos vários crimes e Miguel De Blast, o protagonista, consegue ser, ao mesmo tempo, suspeito e investigador. Em poucas palavras: uma bela história de amor (Miguel tem uma paixão intensa por Ana, cujas pistas a remetem para a autoria dos crimes), repleta de mistério, sangue, cadáveres e muitas referências bibliográficas - ou não fossem todas as personagens tradutores de romances e obras afins. Aposto que até o gajo do berbequim ia adorar esta merda.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Coisas

Contaram-me que a Soraia Chaves está com um corpinho de comer e chorar por mais. Que tem aspecto de Ferrero Rocher e não sei quê. Quem me disse isto foi um amigo que admitiu ter visto na TVI, ontem à noite, o «Call Girl». Tive pena de não ver. Mas, muito provavelmente, estaria dedicado a algum projecto pessoal do calibre das maminhas da Soraia Chaves.
Aposto que os puritanos do costume já estão a pensar que este blog está a destoar. É verdade. Mas o que querem? Vislumbra-se uma semana comprida pela frente. Ainda nem acabei de mastigar as passas do fim de ano e já estou de regresso ao trabalho. O período entre o Natal e o fim de ano deveria durar, no mínimo, uns 5 meses. Assim, dava tempo de um gajo se recompôr da indigestão do bacalhau e das bebidas espirituosas.
Apetecia-me ir até à Papua Nova Guiné e ficar por lá umas semanas, na apanha dos caracóis. Isso e dançar o samba, com as minhas colegas do trabalho, todos desnudados, durante largas noites, à luz da fogueira e debaixo das palmeiras. Mesmo sem a Soraia Chaves. Eu sei que elas passam a vida a pensar nisto. Qualquer dia têm de perder o orgulho. Ou isso ou continuarão infelizes.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Rabanadas e Buscopan®

E assim cessou mais uma temporada natalícia que, certamente, permanecerá para toda a minha existência, bem fundo do coração. Algo me dizia que estavam criadas as condições para ser um Natal inesquecível, repleto de miminhos e arroz doce. Objectivo cumprido. E, para não destoar, a coisa colidiu mesmo com a noite de consoada.

Eram 20h30 e já eu estava nas urgências – diga-se em abono da verdade que, nestas merdas, não gosto de perder tempo; além disso, dizem as regras de etiqueta e de bons costumes que é de extremo mau gosto aparecer tarde e a más horas. Foi assim que os lixei. Auxiliares, enfermeiros e médicos na boa vida (bem os vi, a todos, com bolo rei e rabanadas no canto da boca), num hospital que mais parecia um hotel fantasma (é oficial: noites de consoada e em que joga o Benfica são as melhores para check-ups, visitas e exames de rotina).

Valeu-me a paciência e a sabedoria do Dr. Igor Kalashnikov (ou algo parecido; fui incapaz de lhe fixar o apelido, mas tenho a certeza que soava a instrumento bélico), proveniente de um qualquer país do leste. Estou-me nas tintas para a nacionalidade do homem, até porque – mesmo não me tendo ofertado qualquer sorriso ao longo da noite (por momentos, quis-me parecer que estaria a ser atendido por um humanóide sem emoções) –, a realidade é esta: fez-me uma apalpação abdominal tão boa que, por breves instantes, me fez esquecer como é bom gostar de mulheres. Umas mãos daquelas não deviam andar assim, à mercê das administrações hospitalares, a desenrascar urgências. Aquilo era coisa para estar num SPA. Ou, vá lá, na minha casa (e a tempo inteiro).


Mas quando a esmola é muita o pobre desconfia. Depois do questionário clínico e da apalpação memorável, toca a fazer análises ao sangue – logo eu, que tenho um pavor a agulhas (se fosse dependente da heroína, acho que estaria, basicamente, fodido). E já que o enfermeiro iria estar com a mão na massa, o melhor seria administrar de seguida uma bela dose de Buscopan® na veia. Dizia-me o gajo, após me ter sugado metade do sangue que circulava neste corpinho: «tem é que ser devagar, porque senão o medicamentozinho não faz efeito». Foda-se. Uma eternidade naquela merda. Ainda por cima, com um enfermeiro que nada ficava a dever a essa paneleiragem que grassa por aí, neste mundinho cão e cruel. E depois o «medicamentozinho» tem um efeito giro: um gajo tenta focar ao perto, mas, em bom rigor, não vê um boi.
Há sempre um lado positivo. No caso em apreço – e por causa de mim –, ficaram justificados os ordenados do pessoal de serviço. Aliás, por causa de mim e da velhota (dar-lhe-ia uns 80 anos) que deu entrada, às 23h e tal, com queimaduras de 2.º grau. Aí, sim, confesso que tive mesmo pena do que vi (desfocadamente, mas vi): a senhora vivia sozinha, passou a consoada consigo própria e queimou-se com um saco de borracha, daqueles que levam água quente. Pior: ainda arranjou forças, no fim daquilo tudo, para aplicar benzina e uma pomada (que já nem sequer se vende em Portugal) em cima das mazelas. Estava de tal modo pálida que nem uma só palavra lhe saia da boca. Nem se sentia no direito de expressar as dores intensas que lhe percorriam o corpo inteiro. Admito que sai, já de madrugada, mais aliviado das dores – mas, seguramente, com o coração despedaçado.