segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As marcas do tempo

O estalido da lenha que arde na lareira; a cafeteira com água para o café a aquecer no braseiro; o pão em riste, espetado num garfo, para ir torrando ao sabor do calor do braseiro; o velho transístor a captar a emissão radiofónica matinal, vinda de longe; um «até logo» ensonado dito ao avô e à avó; a estrada de terra percorrida na obsoleta bicicleta, companheira de toda uma infância, rumo à escola e a pisar o gelo que abafa a erva daninha junto à berma; os jantares de sábado em família; o frango do campo assado na brasa; a matança do porco durante dois dias, com tempo para a pesca e para a apanha de cogumelos selvagens; as festas na aldeia; o dia em que o circo vem à aldeia; as brincadeiras sem fim no dia em que a professora primária adoece; a vindima e os saltos no lagar noite adentro; a euforia das manhãs de Natal...
Uma imensa saudade do que já fui, daqueles que foram e de um tempo que já não volta.

3 comentários:

Makira disse...

Estive este fim-de-semana no norte... é doloroso "reviver" o que tínhamos e não temos mais... todas essas coisas que descreves e que fizeram parte de mim, do meu crescer. Cheguei à conclusão de que a nostalgia também dói...

الرجل البسيط disse...

Se dói, é porque foi bom. Mais vale doer e ter com que recordar do que não sentir nada e ter a mente esvaziada de bons momentos. Mas, sim: a nostalgia dói. E não é pouco.

José (saudosista) Madureira disse...

Ideal mesmo era que, aquela que descende de ti um dia pudesse escrever exactamente o mesmo que escreveste aqui, hoje. Porquê? Porque foste tu a proporcionar-lhe esses momentos e para mim, isso é que é de valor.
Acho que temos sempre duas opções: Podemos contar como era bom fazer uma fogueira e nela assar as sardinhas, comendo-as sobre uma fatia de pão alentejano, cortado a custo. A segunda opção é fazer a fogueira e nela assar as sardinhas, comendo-as de seguida, ainda quentes, sobre uma fatia de pão alentejano, cortado a custo...