Faço aqui uma pausa no trabalho para não dar em doido. Não só por estar a escrever, neste preciso instante, sobre «patologia vulvar e vaginal na adolescência», mas também porque estou a fazê-lo sob o ruído ensurdecedor de um berbequim, manejado por um técnico que irrompeu redacção adentro, acompanhado por mais 2 ou 3 tipos com ar de maus. A entrada foi de tal forma rompante que me fez questionar, momentaneamente, toda a minha existência e das 237 mulheres com quem, até hoje, convivi de forma peculiar e excitante.
Fiquei com a leve sensação de que o homem do berbequim terá ficado com uma má impressão sobre a minha pessoa. Reparei na maneira desconfiada como olhou para o monitor do meu computador, onde constava - em fonte Arial, tamanho 12 - a seguinte mensagem:
«(...) não se pode recorrer aos meios utilizados habitualmente para as mulheres adultas (i.e., exame com espectro e toque vaginal), mas poderá ser, no entanto, necessária a vaginoscopia – que é dolorosa e, como tal, realizada sob anastesia geral».
Das duas, uma: ou ele pensa que sou tarado sexual (o que não deverá andar muito longe da verdade) ou então guarda más recordações da última vaginoscopia que realizou. Não é de excluir também a possibilidade de ele me querer como ginecologista da esposa. Basta olhar para mim e constatar que eu sou todo arte, sapiência, profissional exímio, médico. O meu nome não foi escolhido, aliás, por mero acaso; foi uma espécie de tributo a um médico que residia lá na aldeia, nos idos anos de 1970.
A (des)propósito: estou a ler actualmente um livro espectacular. Dá pelo nome de «A Tradução» (Pablo de Santis, edições ASA) e versa sobre um grupo de linguístas que se reunem num congresso em Puero Esfinge. Entretanto, são cometidos vários crimes e Miguel De Blast, o protagonista, consegue ser, ao mesmo tempo, suspeito e investigador. Em poucas palavras: uma bela história de amor (Miguel tem uma paixão intensa por Ana, cujas pistas a remetem para a autoria dos crimes), repleta de mistério, sangue, cadáveres e muitas referências bibliográficas - ou não fossem todas as personagens tradutores de romances e obras afins. Aposto que até o gajo do berbequim ia adorar esta merda.
1 comentário:
o que é uma vagina?
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