As palavras teimam em ficar aprisionadas. Indago por elas, mas em vão. Mesmo as mais simples parecem ter embarcado nesta obstinação, deixando-me a braços com o silêncio vago e cru. Tenho a sensação que cada letra me fugiu das mãos. As vogais desentenderam-se com as consoantes; o sujeito voltou as costas ao predicado; a fonologia e a semântica deixaram de fazer sentido. Como se não bastasse, falta-me a voz. E o bater forçado no teclado denuncia já alguma fraqueza.
Não me solto. Estou encarcerado nos teus passos, sem saber porque não me liberto. Nem eu próprio entendo o encanto que tens e que me fascina. Bem sei que és veneno. No entanto, e quanto mais te condeno, mais quero ficar. Bem sei que é loucura. Mas tudo em mim te procura quando não estás.
Teria tanto para te dizer. Só que as palavras insistem em andarem desencontradas com a minha vontade. Elas preferem o silêncio do que a ouvirem-se entre si mesmas. O significado dos sons articulados, contudo, continua a ser o que sempre foi: verdadeiro e sincero. Gostava de colocar um ponto final, mas não consigo. O tempo é demasiado precioso para deixar a frase a meio. Sozinho, não me cansarei de procurar os verbos que quero conjugar; mesmo que conjugados no pretérito perfeito; e mesmo que nunca exista uma primeira pessoa do plural.
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