quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A razão da vida

Ainda não sabes, mas foram os teus olhos que me fizeram ver o outro lado da existência. Anunciaste a tua chegada à minha vida com um choro decidido e sonoro. A personalidade forte já estava bem vincada no timbre da tua voz. Bastou não mais do que um mero instante para que as minhas lágrimas, desprendidas timidamente, se juntassem às tuas. Naquele momento, fiz um juramento que ainda hoje guardo só para mim. Prometi que, um dia, to direi ao ouvido. Só a ti.

Todo o tempo do mundo é pouco. Cada segundo que passamos juntos parece uma doce miragem. Porque o tempo não pára - e quanto mais passa, mais nos amansa a memória. Cada instante só nosso é uma ocasião especial que transformarmos num veleiro de emoções. Soltamos as velas da folia e navegamos num mar sem fim de puro encantamento, até que âncora do cansaço nos faça cair nos braços um do outro. Tantas vezes adormecemos assim, os dois, embalados pelo canto das cigarras e com o brilho da lua a entrar-nos pelo quarto adentro.

Havemos de repetir os finais de tarde de Verão, estendidos na rede amparada pelas mesmas duas árvores que, também elas, me viram crescer. Permanecemos quedos e mudos, a contemplar o pôr-do-sol, enquanto partilhamos uma fatia adocicada de melão. Havemos de reviver as noites passadas no campo, deitados na mesma velha esteira onde, em tempos, inventei brincadeiras, chorei e ri. No alpendre, contaremos, como sempre, todas as estrelas do firmamento. Sabemos que aquela que brilha mais forte é só nossa.

Gosto muito de ti - e haveremos de falar disso todos os dias. Foste o melhor que me aconteceu na vida. Tão certo quanto a nítida recordação do cheiro da tua pele macia e frágil, que guardarei para sempre na memória, nos primeiros dias em que descobrias o mundo.

2 comentários:

José Madureira disse...

Obrigado pela partilha. Obrigado por publicares, acessivel a todos, a prova provada de que a perfeição e a beleza existem, só precisamos de olhar e ver. Ela está lá. Está por todo o lado e não só nos nossos filhos. Gostei do olhar, na foto. Este olhar tem, para mim, dois significados: Por um lado, o simbolismo, o ver, a noção de que, se realmente usarmos a visão, os nossos olhos veêm-na, á beleza, porque, repito, ela está lá!

Por outro lado,os olhos daquela que é, para mim... TUDO! E, eu sei que sabes do que falo, daquele olhar de criança, ausente de maldade e pleno de pureza.Perfeito!E, curiosamente, simplesmente perfeito... A mim, á semelhança do teu post, este par de olhos a que me refiro, emociona-me. São os da minha filha e juro-te, hoje abraça-la-ei de forma especial...

Makira disse...

Não posso comentar esse sentimento tão especial que descreves e que o Madu complementa... mas fico feliz por saber que ele existe. Faz valer a pena viver e dar pontapés em tudo o que é merda na vida!
beijos