Era uma vida saborosa - tão ou mais que a própria sardinha assada. Ainda hoje, quando posso, volto ao local onde já fui feliz. Resta-me a bisavó (95 anos...) e as duas figueiras. A casa desmoronou-se. O chão de piso duro deu lugar às ervas daninhas. À volta, nascem agora casas de gentes de outras paragens, saturadas da cidade. O betão armado cresce de dia para dia. E mal sabem eles que, ali, naquele pedaço de terra, já desfilaram muitas vidas. Parte de mim continuará sempre lá e certamente irá perdurar mais do que as figueiras. Deve ser por isso - só pode ser por isso - que, quando volto ao sítio onde cresci (dentro de uma pequena gaiola, pendurada num galho de uma das figueiras, segundo relatos da minha bisavó), sou assaltado por uma estranha melancolia. Antes assim. Tentarei que a minha filha, quando tiver a minha idade, tenha também um sítio onde regresse e veja que valeu a pena. Mesmo muito a pena.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Rua da saudade
No post abaixo, o digníssimo J. Madureira teve a bondade de ofertar umas palavras deliciosas, através de um comentário, que deixam qualquer bom garfo a salivar. Assim, sem apelo nem agravo, eis que a bela sardinha assada surge de rompante, a galope de um pão alentejano. Imagino-lhe (a sardinha) a entranhar-se nele (no pão), deixando um pequeno rasto com todo o sabor do mar. E lá está: a nostalgia. Sempre a nostalgia... Uma das melhores sardinhadas que comi (teria eu 7 ou 8 anos) aconteceu debaixo de duas figueiras centenárias, que faziam sobra à casa dos meus bisavós. Foi em pleno Verão, depois de uma manhã inteira dedicada à vindima. Ainda hoje, quando o cheiro da sardinha assada me invade as narinas, recordo esse momento (curto, mas intenso) com saudosismo. E surgem, por acréscimo, as saudades das tardes de Verão sem fim, das cabanas improvisadas à beira do riacho, os longos passeios de bicicleta onde se rodavam quilómetros e quilómetros...
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2 comentários:
Uma das melhores sardinhadas assadas que comi foi precisamente na pausa para o almoço aquando a apanha do centeio... Uma das melhores entremeadas que comi foi aquando a fizemos a pausa para o almoço da apanha da azeitona... com o frio, no meio do olival e uma fogueira improvisada.
O comentário do Madu no post anterior é certo. Mas também é certo que as cabanas improvisadas e as árvores centenárias que nos dão nostalgia hoje não existem mais. E sim temos de tratar a vida de modo a que as gerações futuras se recordem como hoje nós recordamos. Mas as nossas saudades não desaparecem apenas por isso...
Fazes-me suspirar, Makira. Pois.
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