segunda-feira, 23 de março de 2009

A noite (2 de 3)

- Deixo a janela aberta? Disse ele enquanto inspirava uma valente lufada de ar.
- Cheira bem.
- Sim, sim. Fiz eu. Acho que ele não percebeu o cheirete que ficou no quarto quando se descalçou. Já estava agoniada. Meu Deus, ai pró que a filha da Dona Guilhermina estava guardada... Também ninguém me manda aceitar a proposta daqueles malucos lá no bar onde eu trabalho. Mas 100 Euricos são 100 Euricos. Ainda me fiz cara e disse que não vou com qualquer um. E faz assim um:
- Cento e vinte! E riram-se todos ao mesmo tempo e fizeram brindes e abraçaram-se muito contentes. No fim, depois de ter dito ao Senhor Zé, o meu Boss, que tava mal disposta e que tinha que sair mais cedo, eles deram-me as notas dobradas e nem desconfiei. Quer dizer, aqui a filha da minha mãe, que teve muita educação, ao contrário de uns e de outros, até achei que ia ser enganada mas como sou educada nem desembrulhei as notas. Afinal só pagaram 100 Euros e ainda houve um, a rir:
- Ele ainda é virgem e tem trinta e tal anos.
Faz-me falta o dinheiro por isso aceitei. Até o achei simpático. Era gordito e parecia limpinho e agora isto, um fedor que não se pode, valham-me os santos.
Volta-se pra mim começa-me aos beijos muito lambuzados e vira-se:
- Tens preservativos?
Deves pensar que sou uma galdéria, não? Tenho lá essa porcaria! Arranja-os tu se quiseres que eu passo bem sem eles, fiz eu aos gritos. Por acaso até tinha dois porque o meu João, o bófia nortenho com quem eu ando, que vai lá dormir, ás vezes, manda-me os ter porque ás vezes ele esquece-se de os comprar e por isso tenho dois na mala. Aquela porcaria ainda é cara. E estraga-se muito. Também, o meu João, é muito bruto. Mas nem sempre. Ai, acho-lhe tanta piada, quando me entra pelo quarto, a segurar a pila e a sacudi-la para cima e para baixo:
- Bou dar-te cu cáchetéte. Faz ele com aquele ar de malandreco e aquele bigode raquítico assim levantado no canto. Nem sei como é que ele faz aquilo. Mas é bom e o João é muito educado, deixa sempre uma notita na mesa de cabeceira. Ele sabe que a vida tá dificil e faz questão de ajudar como pode. Não é como este gordo pessonhento. Fiquei cheia de cuspo, que nojo. Pôs-se em mim, resfolgou um bocado e assim como veio assim se foi. Nunca vi coisa tão rápida. Nem senti nada valha-me Deus, não sei que coisa era a dele mas grande não era de certeza e no fim, todo transpirado:
- Foi espectacular não foi?
Vamos mas é dormir, que amanhã é dia de verga-a-mola, fiz eu muito depressa, mas de boa me valeu, a filha da Ti Guilhermina não pregou olho a noite inteira com ele a roncar que nem um porco, chiça, triste ideia a minha. A verdade é que o coitado não tem culpas no cartório. Não escolheu ser assim tão feinho e pequenito. Quando acordou olhou-me prós bicos, ainda doiam e estavam tesos do cabrão tanto mos chupar, olhou pra mim e dei-lhe um sorrisinho só para ele não pensar que sou antipática e dei comigo a pensar:
- E eu aqui, armada em puta e ainda com pena do homem. Ora esta!

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