terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Vivemos todos num grande equívoco. O mundo é uma mentira redonda, onde cada um de nós se julga dono e senhor da verdade. Perdemos o espírito aventureiro. Temos medo e andamos com o rabinho enfiado entre as pernas. Se fossem vivos, Vasco da Gama e Colombo nem nos reconheceriam enquanto povo ousado e destemido. Hoje, cingimo-nos a navegar timidamente na espuma dos dias, sempre desconfiados, com receio da rota escolhida. Substituimos a bossula e o canivete suiço pelo manual dos bons costumes.

Vemos uma floresta e pensamos logo que é o cabo dos trabalhos; que mais vale não entrar nela, senão ainda nos perdemos entre o arvoredo. Somos uns mariquinhas. Em vez de soltarmos a franga, não passamos de cordeirinhos amestrados. Estamos demasiado ocupados com a aparência, quando deviamos prestar mais atenção ao conteúdo. O mundo não é nenhum castelo encantado, mas a verdade é que sabemos ser, cada vez menos, princípes e princesas. O romantismo morreu e nem sequer se dignaram a fazer-lhe o cortejo fúnebre.

Prosseguimos as nossas vidinhas, preocupados com o nosso umbigo, sem nos interrogarmos se aquela pessoa que ali está mesmo ao lado se encontra bem. Não nos fica bem deixarmos os nossos filhos entregues à sua mercê, nesta forma de mundo que estamos a criar. A loucura está em extinção. Não foi por, em pequenos, saltarmos a cerca, invadirmos o pomar alheio e encher a barriga de laranjas que veio mal ao mundo. Antes pelo contrário. Talvez um pouco mais de loucura e o mundo não fosse tão insano.

1 comentário:

Rui Mendes disse...

Que negativismo sincero e cruel.