segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Crítica literária

Há uns dias, de passagem por uma superfície comercial apinhada de gente, dei de caras com uma montra de uma livraria (onde se vendiam livros e tudo, vê tu bem!). Num olhar de soslaio, lá estavam as grandes obras contemporâneas: «Portugal revisitado» (pelo chef Chakall), «Bimby: receitas com história», «A minha casa é o teu coração» (Margarida Rebelo Pinto), «Era uma vez... Os contos favoritos de Fernando Mendes», «Organiza festas com a Estefânia» (essa mesma, a da Lazy Town, de quem todos os miúdos gostam e invejam a falsa cabeleira rosa choque)...
Mas, no meio de tanta proposta literária, houve uma obra que reteu a minha atenção (e que estava bem lá no topo, entalada entre «Liderança: as lições de Mourinho» e «Aprender a jogar futebol: um caminho para o sucesso»). A coisa em causa assume a designação de «As manobras de Pinto da Costa», cujo autoria, dizem-me, pertence a um jornalista chamado Marco Alves. Disclaimer: sou bem capaz de conhecer o autor em questão - mas não é por isso que deixarei de exercer o direito à opinião livre ou de me escudar a dar o meu parecer insento sobre os conteúdos tratados neste manual.
E do que trata, em concreto, «As manobras de Pinto da Costa»? Pelo que li - e não foi pouco! - estamos perante uma obra com um objectivo nobre: «desmontar um mito». São, parece-me, «35 anos de guerras, contradições, jogos de bastidores e estratégias sinistras». Primeira observação: fala-se pouco de «fruta» e «café com leite». Não gostei dessa ausência descarada (e propositada?) de pormenores sórdidos. Entre engatar a Carolina Salgado ou comprar o livro, esta última hipótese seria certamente a que me daria menos trabalho (e a que seria menos dispendiosa). Teria gostado de saber, por exemplo, a que horas se deitava Pinto da Costa; que ração dava ao cão; se gostava de meias de leite mornas ou a escaldar...
Segundo ponto: as tabelas que servem de enquadramento aos textos não ajudam à leitura. Faltam-lhes cor (ou as cores escolhidas não são as melhores). Neste aspecto, o livro peca por não ter recorrido a um decorador de interiores. É pena.
Terceiro ponto: ao ler o livro, fico com a ligeira sensação de que há uma parte a.c/d.c. (antes do cafézinho/depois do cafézinho). Não sei porquê, mas, lá mais para as páginas finais, soa a falta de cafeína. Não só pela forma de escrita, mas também porque há menos citações do Record.
Quarto ponto: porque é que Pinto da Costa não foi confrontado com os «mitos desmontados»? O autor tentou, ao menos, marcar um encontro com a Carolina? Saberá Marco Alves, porventura, o nome de um dos cães de Pinto da Costa? (por outra: será que o jornalista está a par de que Pinto da Costa dispõe de animais domésticos?).
Quinto ponto: em suma - e apesar de ainda não ter concluído a leitura de «As manobras de Pinto da Costa» (e não obstante as considerações feitas nas alíneas anteriores) -, creio que este manual se assume como uma mais-valia, na medida em que reúne alguns dos principais artigos do Record, A Bola, O Jogo e afins (confesso que me faltavam alguns exemplares na colecção de edições desportivas).
Avaliação final: 8,5 (numa escala de 0 a 10). Justificação: porque sou sensível, também tenho o meu lado Cláudio Ramos e alimento a esperança de engatar o autor (isso seria, seria montar um verdadeiro mito).

4 comentários:

Makira disse...

Vou adoptar a cena a.c/d.c. (antes do cafézinho/depois do cafézinho)! Adorei!! Em relação a esse livro não o tenho visto nas montras! Mas continuo curiosa para perceber o nível das manobras!

acatar disse...

eu já li esse livro e nota-se claramente que o autor foi parco nas palavras, na medida em que previu que a sua integridade física podia sofrer de uma espécie bipolaridade, ora levava nos cornos à segunda feira dos Super Dragões, ora era osculado sofregamente pelo No Name à terça. ainda hoje o autor, aposto, não sabe se deve sair de casa, se deve ir às compras como um homem livre.

الرجل البسيط disse...

Zhu Di: e também não dormias com o autor? Eu dormia, pá. Sobretudo porque reconheço-lhe capacidade de síntese (repara como soube espetar quase uma hemoroteca inteira num só livrinho). Para mim, a capacidade de síntese é tudo numa relação. Espero, um dia, conhecer verdadeiramente o autor e fazer-me ao bife.

acatar disse...

o autor faz um óptimo arrozinho de coentrada.