terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Quando o óbvio nos parece demasiado simples

A notícia surgiu n'O Jogo - e o amigo Acatar aproveitou para passar a mensagem. Em duas linhas: Vanessa Fernandes terá interrompido a carreira desportiva devido a "uma doença de coração: o amor" [citação]. Sem qualquer confirmação oficial por parte da atleta e do seu treinador (conotado como namorado, sendo preparador físico de Vanessa Fernandes desde Novembro de 2009...), o amor enquanto causa evidente do abandono pela competição parece surgir «intuitivamente» (no fundo, é a mesma filosofia da imprensa cor-de-rosa: o rumor aparece e as «fontes» [amigos, vizinhos, conhecidos...] dão-lhe toda a consistência de uma verdadeira notícia - mesmo que os intervenientes desmitam ou não comentem os factos).

Neste caso, as palavras de Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico de Portugal, cairam que nem ginjas: "ela [Vanessa Fernandes] transformou-se numa mulher; uma bonita mulher". Importa reter que o DN foi mais longe, associando - de forma indirecta (e pouco bonita) - a decisão da triatleta ao "medo de falhar", às "dificuldades em lidar com a pressão", à "perda de confiança" e à "desmotivação". Em suma: o caminho dos jovens campeões é tão penoso que, um dia, acontece a glória; e, no outro, a depressão (apenas para aludir ao título do artigo).

O que se passa com a Vanessa Fernandes é o mesmo que se passa com outros atletas da alta competição. Melhor dizendo: com outras atletas (do sexo feminino, bem entendido, porque a questão reside precisamente no género). Chama-se «tríade da mulher atleta» e trata-se de uma síndrome que envolve a alimentação desregrada; a amenorreia (ausência de menstruação); e/ou a osteoporose. Em Ginecologia, o diagnóstico e tratamento das disfunções menstruais, entre as mulheres que praticam exercício físico intensivo e/ou extensivo, constitui o motivo mais frequente para procurar ajuda médica.

A triatleta anteriormente mencionada terá tido, durantes anos a fio, amenorreia secundária (a taxa de prevalência desta situação clínica pode, aliás, ser até 20 vezes mais elevada entre as atletas de alta competição, por comparação com a população em geral). Um treino intenso e regular é condição suficiente, per si, para desencadear amenorreia atlética. Perguntar-me-ão: «então, e só por ter o período, a tipa deixa a alta competição??». Respondo: a verdade é que deixou (e talvez as implicações decorrentes de uma menstruação, surgida aos 25 anos de idade, sejam bem mais complexas do que aquilo que julgamos). Releiam, agora, as palavras de Vicente Moura: «ela transformou-se numa mulher...».

3 comentários:

acatar disse...

és tu o namorado dela?

trais-me assim? sei das coisas assim?

por um post?!

الرجل البسيط disse...

Chama-se destreza, Zhu Di (ou, se preferires, olhar e ver os que os outros não vêem - por bastante simples que as coisas sejam). Gay friend é ir em cantigas e acreditar que, por amor, tudo é possível. Até deixar de correr. Atina, Zhu Di.

acatar disse...

estou a tentar, estou a tentar.

o mundo não atina comigo, oq ue é muito mais fácil, mas pronto, temos de ir pela parte mais difícil, que eu atinar com o mundo.

esta foi profunda. espero que gostes, baby.