quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
O tempo é o agora
«Continuo a achar que o tempo corre... Mas eu corro atrás dele, qual Francis Obikwelu. A ponto de ficarmos a uma curta distância um do outro; de eu conseguir agarra-lo melhor e vê-lo como aliado e não como oponente. A ponto de eu dizer que, embora não me sobre muito, tempo também não me falta. Porque faço sempre por estar/ser/fazer o que quero, com quem quero, onde quero e… quando quero.»
(de alguém que sabe como "espremer" a vida até à última gota)
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Os meus santos natais

Agora a sério: adoro padres. Sobretudo aquele que acompanhou o meu crescimento enquanto cristão, na paróquia da província. Esteve lá meia dúzia de anos. Foi até correrem literalmente com ele. Isto porque o senhor prior resolveu enviar uns quadros de valor inestimável para Espanha, à socapa, a pretexto de os recuperar. Resultado: os quadros nunca mais apareceram.
Os natais fazem-me lembrar a minha professora primária (bastante fodida, por sinal). Obrigava os putos a improvisarem uma peça de teatro, com uma forte componente bíblica. Eu, por mim, gostava de fazer de burro. Porque fazia sentido. E não tinha diálogos. Mas os verdadeiros natais foram passados com a minha vizinha. A Carlinha era fogo. Adorava ser a minha rena. Quando tinhamos tempo, também brincávamos. Mas já lá vai o tempo. Hoje, quem quiser estar com a Carlinha tem de pagar (e bem). Nem que seja para brincar. Há anos que não a vejo. É pena. Perdeu-se uma boa rena.
Naqueles tempos, o que mais gostava era de receber as prendas das avós. A cada 25 de Dezembro, pela manhã, fazia-me à estrada na velha bicicleta, na ânsia de açambarcar os presentes. Muito pijama e muita meia recebi eu das velhotas. Mas o que importava mesmo era o que vinha acoplado às peças de vestuário: a notinha de 5 contos. Agora, a Carlinha...
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Natal de adultos ou de miúdos?
Concordo contigo. Hoje é um disparate e uma corrida alucinada!! Lembro-me quando era miúda que era assim como dizes: prendas só para os miúdos (éramos três) e prendas úteis (cadernos, lápis, livros)!!
Hoje eu participo nessa corrida alucinada mas não à velocidade a que descreves, mas participo porque os miúdos cresceram e temos há anos um Natal de adultos.
Este é o 2.º ano que vai contar com a presença de uma miúda e 85% das prendas são para ela e úteis. Mas a miúda só está connosco no dia de Natal e não passa "a meia-noite" e nós habituados que estamos a rasgar o papel de embrulho das prendas aproveitamos os 15% para as prendas dos adultos. E são úteis e outras para safar e outras quase por obrigação. Mas é uma roda viva e nessa noite somos todos miúdos (piores que miúdos).
Também te posso dizer que esta tradição de prendas entre adultos surgiu quando os três miúdos se tornaram adultos, com responsabilidades e dinheiro para poder comprar e oferecer. Depois de crescerem não acharam justo só eles receberem (por ainda serem os mais novos) e resolveram começar a comprar para dar aos outros.
E foram os três que iniciaram a troca de prendas entre todos - adultos - sem faltar um!
Hoje há uma miúda, mas os adultos dão aos adultos também (e vai de um pai natal de chocolate a algo que alguém precisa mesmo nesta altura e canaliza-se para prenda de Natal).
Cada um dos adultos faz de Pai Natal e as bochechas vermelhas não são pintadas! Afinal, somos adultos e fazemos muitos brindes ao jantar!!
Rimos muito e adoramos rasgar o papel de embrulho das prendas!!!!!!
Um conceito de Natal e do sentido da vida

Nada disto faz sentido. E a culpa, em última instância, é sempre nossa. Desde cedo que os habituamos mal. Impingimos o espírito consumista dentro do próprio lar, afogando os miúdos com pedaços de plástico industrial transformados em brinquedos, made in China, concebidos por trabalhadores que têm idade para andar na escola. Todos os dias deviamos parar e pensar um bocadinho nestas merdas. Mas não temos tempo. Porque temos de ir para a fila dos embrulhos da Toy's'Rus ou do Continente. E depois levamos com a falsidade da Leopoldina, da Popota e de outras que tais, que não passam de mascotes fabricadas por marketeers, mascaradas de anjinhos bem intencionados que se desdobram em missões sorriso e coisas do género - mas que, em boa verdade, não são mais do que uma forma de pôr as figuras públicas a dar a cara pelas marcas de grandes grupos económicos. Mas disto todos sabemos e, mesmo assim, lá vamos nós para a fila dos embrulhos.
Na minha casa, é muito simples. Há prendas, claro que há. Mas só para os mais pequenos. E livros, não mais do que isso. Ainda ontem, por exemplo, dei de caras com a minha filha sentada no sofá, sozinha, a folhear um prontuário da Língua Portuguesa e a inventar histórias (como aquelas que o pai e a mãe lhe contam aquando da hora de deitar). Não é mais inteligente do que as outras crianças, com toda a certeza. Aquele momento revela, antes, o esforço de dois pais preocupados e que, quando crianças, queriam ter um livro de banda desenhada e não o tinham. Nem sequer era uma pistola de água ou uma boneca: era apenas um simples livro.
Nos dias de hoje, falta, em muitas casas, a consciência do que é ter pouco. Os miúdos nascem já com o Magalhães e a internet acoplados ao cordão umbilical. Tudo lhes é mostrado - quando deviam ser eles a descobrir o mundo. Pensamos que é por ali o caminho, sem pensarmos que estamos a direccioná-los para o abismo. Assim se tecem as malhas do egoísmo. Estamos a produzir pequenos robots em série, incapazes de actuar e a pensar perante um determinado imprevisto. Bem-vindos aos novos tempos.
terça-feira, 15 de dezembro de 2009
(Tempo)
Pára o tempo do vento que é o contratempo da nossa demora
Passam dias e noites, os meses, os anos, o segundo e a hora
E ao tempo presente é que a gente pergunta e agora e agora?
Tempo para pensar cada momento deste tempo
Que cada dia é mais profundo e é mais tempo
Para inventarmos outro tempo menos lento
Tempo dos nossos filhos aprenderem com mais tempo
A rapidez que tem de ser o pensamento
Para nascer, para viver, para existir
E nunca mais verem o tempo fugir
Ai o tempo constante que a cada instante nos passa por fora
Este tempo candente que é como um cometa com laivos de aurora
É o tempo de hoje, é o tempo de ontem, é o tempo de outrora
Mas o tempo da gente é o tempo presente, é agora é agora
Tempo para agarrar cada momento deste tempo
Interminável e absoluto rasgo o tempo
Num temporal com os ponteiros do minuto
Tempo para um relógio bater certo com a vida
De um homem bom, de um homem são, de um homem forte
Que da chegada conseguir fazer partida
E que desperta adiantado para a morte
José Carlos Ary dos Santos
domingo, 13 de dezembro de 2009
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Gravedigger
When you dig my grave
Could you make it shallow
So that I can feel the rain
Gravedigger
Gosto deste refrão
O autor é o Dave Mathews.
Para ouver, aqui.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Amor eterno
Conheço-a à pouco mais de uma década. Sempre foi muito bela. Desde o primeiro momento que a vi que senti este amor. Não se trata do “amor à primeira vista”, o clássico, o dos filmes. Trata-se de algo tão profundo que não é fácil descrevê-lo. Certo é, que os grandes amores, de uma maneira geral não são sentimentos de fácil descrição. Por vezes, nem nós próprios sabemos o que sentimos. Mas de facto, sabemos que sentimos algo sem no entanto o sabermos descrever.
Sobre o meu amor, quando a vi pela primeira vez, senti que este amor seria eterno. Foi tão forte, tão intenso, que quando o recordo, me emociono. Ficou-me no coração a primeira imagem, o primeiro momento e, se Deus quiser, nunca mais o esquecerei.
Dormia ao de leve, serena, envolta num manto branco. Toquei-lhe aos poucos na face, devagarinho, fiquei maravilhado. A sua beleza era única, nunca tinha visto uma mulher assim. A sua pele era lisa e fresca e os olhos, em repouso, pareciam dois riscos em arco, sorridentes e calmos. No centro da face, altivo, um nariz de petiz, arrebitado. Dos seus lábios recordo apenas a perfeição, recordo o delineado e curvilíneo acre, numa composição de pleno e de belo, um quadro que me encantou. Ao segurar-lhe a mão delicada, imediatamente apertou os seus dedos nos meus e suspirou quase sem se notar. Ainda sem o saber, ela sentia o mesmo por mim.
É eterno este nosso amor. É gratificante, é inspirador, renova energias e dá alento. Dá-me forças e por ela, asseguro-vos, movo montanhas e combato dragões, enfrento centúrias romanas e sem dúvida, sem a mínima dúvida, sem hesitações, troco a minha vida pela dela agradecendo, de seguida, a oportunidade.
Sobre a beleza do meu grande amor, o mundo poderá discordar, mas é isto que sinto pela minha filha e sobre isso, lamento, mas não há volta a dar!
quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
Volumetria

Gosto de seios geometricamente bem definidos. Volume q.b. associado a uma fisionomia que, à primeira vista, me parece verosimivelmente perfeita. Dá vontade de lhes saltar em cima, bem em jeito de um trampolim. As maminhas da chefe estão para as minhas mãos como as renas estão para o Pai Natal. Imaginá-las sem mim por perto é como pôr o Pai Natal a fazer um anúncio a um creme de barbear. Simplesmente não faz sentido.
Hoje, notei que a maminha direita estava mesmo disposta a sentir a pressão da minha mão esquerda. Ainda pensei em satisfazer-lhe a vontade, mas, por uma questão de cortesia para com a maminha esquerda, achei por bem manter a mão quieta. Poderia ter avançado com a mão direita, mas isso só iria enfurecer o seio esquerdo. Nada como pacificarmos a questão: é ir em frente com as duas mãos ao mesmo tempo e pronto. Assim também as duas maminhas o queiram.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A sorte calha-nos à nascença
Há dias conheci uma criança. Não me ficou o seu nome e por isso chamar-lhe-ei Rafael. Terá, se não me falha a apreciação, seis, sete anos. Loirinho, com aquele cabelo semi-encaracolado e jeitos rebeldes, aparentemente indomável que, a meu ver, faz pensar que o petiz é dono de um comportamento tão selvagem como aquele que o seu escalpe aparenta. Mas não. O Rafa (prefiro chamar-lhe assim), desloca-se de forma relativamente lenta. Até ver, as suas pernas demonstram a ausência daquela energia eléctrica que é característica nos miúdos desta idade. Creio que não nasceu com nenhuma deficiência física. Também me pareceu que não nasceu com nenhuma deficiência mental mas, no breve contacto que tive com ele, fiquei convencido que algo não funcionava correctamente dentro daquela cabecinha loira.
Sobre a cabecita loira, observei que a zona da testa fazia lembrar o homem elefante. Era excepcionalmente disforme, assimétrica, demasiado sobranceira, empenada e os seus ossos, cobertos com uma pele que já foi de bebé e que agora apresenta um sem-número de cicatrizes, estão anormalmente disformes. Não articula bem as palavras e com aquela idade ainda se baba ligeiramente. Tem olhos azuis. Tão azuis e tão normais que, neste contexto, quase me fazem chorar.
Quando o cumprimentei, naquele dia, senti uma mão áspera e anatomicamente imperfeita. Não estava bem vestido. Também não estava muito limpo.
Momentos depois, apareceu a mãe. Veio buscá-lo á escola. Abraçou-o quando ele correu para ela, de braços abertos e visivelmente feliz por a ver. Parecia uma mãe normal, igual a tantas outras que pude observar, noutras ocasiões, naquela escola. Nesta senhora destacava-se apenas, e não sei se me vai ser fácil descrever, uma espécie de olhar amoroso, uma atitude carinhosa com tudo e com todos, que se percebe, mas que não é comum.
Mais tarde, alguém me contou a história do Rafa. Diz-se que foi filho de boas famílias. A mãe, que não é a sua, é a dona do colégio para meninos órfãos onde o miúdo vive desde muito bebé. O Rafa não é órfão. As entidades competentes, há uns anos, retiraram-no do seio familiar. Os seus pais, ao invés de dar amor, enchiam-no de pancada, tão violentamente que o desfiguraram e o mutilaram de tal forma que os seus ossos, nomeadamente os da cabeça, assumiram formas diferentes dos das outras crianças. Foi esta a razão que alterou o bom funcionamento do cérebro deste loirinho.
O Rafa teve sorte, esteve quase, mas não morreu.
Uma vez vi o Rafa rir ás gargalhadas. Naquele momento, pareceu-me feliz.
Se acreditarmos que estamos cá no mundo com um propósito, o do Rafa será que é o de nos mostrar, quando estamos tristes achando que tudo é mau, que quando tudo é mau ainda podemos rir?
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
...
Por vezes, a melancolia e a angústia sufocam-me. Mesmo sem motivo aparente. Há dias em que é pela dor física e também por aquela que não se vê. Cada vez percebo menos o mundo. Porque sei que, no fundo, sou honesto, consciente do que sinto, verdadeiro e com vontade de aprender. Sempre. Mas viver todos os dias cansa. Porque sim. Ou porque não.
Apetece-me apanhar a maré vazia. Sozinho. Aguardar que a água vá subindo, até me afogar os sentidos. Está quase. Já sinto a ondulação gélida a debater-se com a minha pele. Estou prestes a fechar os olhos. Já vislumbro os cardumes coloridos e a beleza das algas. Quero ficar aqui para sempre. Mesmo para sempre.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Cruxifiquemos os nosso nacos como se fossem um só

Admirar a beleza de M. e contabilizar sorrateiramente cada curva do seu corpo esguio e apetecível é apanhar um banho de sol (mesmo nos dias agitados pelo vento, em que troveja, chove e faz frio). Há toda uma estética e maneira de ser que nos faz acreditar que há ainda muito para aprender. Não importa a idade - mas antes aquilo que fazemos com ela. M. merece uma observação científica; um olhar clínico. A mim, sei bem qual o diagnóstico que me faria (e o tratamento que me deveria aplicar. Mas isso são princípios activos que não cabem aqui neste prontuário terapêutico).
M. remete-nos para um mundo de fantasias e sensualidade. Não falo de algo de cariz meramente sexual. Para isso, bastar-me-ia a carne que tenho no talho lá de casa - que sabe bem, diga-se de passagem, e está tenra como nunca; agora que falo nisso, acho que a qualidade dos nacos que tenho comido recentemente supera quaisquer outros de produção biológica ou com Denominação de Origem Protegida.
Mas não nos desviemos do essencial: M. faz-nos bem à vista. Eu, por mim, aprenderia e treinaria toda a essência da linguagem braille com ela. Ou provava um pouco da sua carne. Uma espetada mista era o ideal. Assim, o talho ficaria mais composto e diversificado.
terça-feira, 10 de novembro de 2009
...

Vemos uma floresta e pensamos logo que é o cabo dos trabalhos; que mais vale não entrar nela, senão ainda nos perdemos entre o arvoredo. Somos uns mariquinhas. Em vez de soltarmos a franga, não passamos de cordeirinhos amestrados. Estamos demasiado ocupados com a aparência, quando deviamos prestar mais atenção ao conteúdo. O mundo não é nenhum castelo encantado, mas a verdade é que sabemos ser, cada vez menos, princípes e princesas. O romantismo morreu e nem sequer se dignaram a fazer-lhe o cortejo fúnebre.
Prosseguimos as nossas vidinhas, preocupados com o nosso umbigo, sem nos interrogarmos se aquela pessoa que ali está mesmo ao lado se encontra bem. Não nos fica bem deixarmos os nossos filhos entregues à sua mercê, nesta forma de mundo que estamos a criar. A loucura está em extinção. Não foi por, em pequenos, saltarmos a cerca, invadirmos o pomar alheio e encher a barriga de laranjas que veio mal ao mundo. Antes pelo contrário. Talvez um pouco mais de loucura e o mundo não fosse tão insano.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Num instante, tudo (ou nada) muda

quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Há noites copuladas, não há?

Não é tanto pelo LJ (já sabemos o que a casa gasta) nem mesmo pela aparente perda de qualidade das batatas Ti-ti (à atenção do fabricante Jorge & Cardoso, Lda: deixem escorrer bem o óleo das rodelas dos tubérculos antes de as embalar, por favor). O que me põe mesmo fora de mim é saber que, com a dose quase letal de drogas que estou a tomar para as anginas e sintomas afins, eu deveria estar a dormir, pelo menos, desde 2.ª feira. Até hoje à tardinha, mais coisa menos coisa. Mas não: vou para a cama e, só de os contar tantas vezes, são os carneiros que adormecem.
De modo que o relógio aponta para as 2h da manhã e estou pronto a ir para os copos com a Calleigh Duquesne. Mas ela não pode porque, a esta hora, está a resolver o misterioso caso de um corpo que apareceu ao largo da praia de South Beach, ali para os lados de Miami. Pode ser que, quando acabar o CSI, a Calleigh já esteja disponível. E aí terei de dizer que não. Porque, nessa altura, já a Liliana Aguiar me entrou pela casa adentro, a querer oferecer-me dinheiro («Sempre a somar» ou lá como se chama a merda do programa da TVI, que nos faz compreender a essência do suicídio). Não que ache a Liliana particularmente interessante. É mesmo pela oportunidade de a ter por perto. E empurrá-la do 3.º andar. Basta um maxilar deslocado ou qualquer outra coisa que lhe impossibilite de abrir a boca.
Deixemo-nos de alucinações. Já basta o elefante que me apareceu na varanda, durante o dia de ontem. A minha mulher garante-me que é uma borboleta, mas ninguém me tira da ideia que é um elefante. Digo isto porque é um bater das asas bem diferente das vulgaríssimas Lycaenidae. Agora vou tomar mais uma dose de paracetamol, coadjuvada com amoxicilina e ácido clavulânico. Com umas baforadas valentes de fusafungina. Amanhã é um novo dia, deste maravilhoso ano de 2038.
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Discutir comigo quando tiveres oportunidade...
A verdade é que quando há problemas fico louca a resolvê-los, dando resposta às solicitações das outras pessoas e colocando a minha pessoa e as solicitações da minha pessoa em segundo, terceiro, quarto, quinto... etc... plano.
Em primeiro os outros e depois eu (eu e os meus - os que fazem parte do meu eu dos quais espero alguma compreensão).
Para quem me conhece há mais tempo, entranha-se esta minha atitude (que não será a mais correcta - é defeito, feito, mau hábito ou hábito simplesmente).
Para quem me conhece há pouco tempo, estranha-se esta minha atitude e geram-se os mal-entendidos, azedumes ou algo do género.
Tivemos a nossa primeira "discussão" o que será sinónimo de dizer que nos estamos a conhecer. O que é positivo, ou não??
Há determinadas situações das pessoas à minha volta que me fazem fechar a porta ao "mundo exterior" enquanto não estiverem bem. Mas não me esqueço do "mundo exterior" e não faço birras do género de desaparecer porque não gostei de algo que me disseste, entendes? O fechar a porta ao "mundo exterior" neste caso é porque não consigo dar resposta a tudo e tenho de estabelecer, mais ou menos consciente, prioridades.
Um dia, posso fechar a porta ao "mundo exterior" porque estou a dar resposta à tua solicitação e enquanto não estiveres bem, as outras solicitações da minha pessoa serão segundo, terceiro, quarto, quinto... etc... plano.
Os MEUS problemas são outra história e lido de outra forma... um dia se estiveres presente ou a assistir também poderás achar estranho. Espero que rapidamente entranhes o meu defeito, feitio, mau hábito ou simplesmente hábito.
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Walking alone

segunda-feira, 26 de outubro de 2009
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
É a vida
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
A razão da vida

Todo o tempo do mundo é pouco. Cada segundo que passamos juntos parece uma doce miragem. Porque o tempo não pára - e quanto mais passa, mais nos amansa a memória. Cada instante só nosso é uma ocasião especial que transformarmos num veleiro de emoções. Soltamos as velas da folia e navegamos num mar sem fim de puro encantamento, até que âncora do cansaço nos faça cair nos braços um do outro. Tantas vezes adormecemos assim, os dois, embalados pelo canto das cigarras e com o brilho da lua a entrar-nos pelo quarto adentro.
Havemos de repetir os finais de tarde de Verão, estendidos na rede amparada pelas mesmas duas árvores que, também elas, me viram crescer. Permanecemos quedos e mudos, a contemplar o pôr-do-sol, enquanto partilhamos uma fatia adocicada de melão. Havemos de reviver as noites passadas no campo, deitados na mesma velha esteira onde, em tempos, inventei brincadeiras, chorei e ri. No alpendre, contaremos, como sempre, todas as estrelas do firmamento. Sabemos que aquela que brilha mais forte é só nossa.
Gosto muito de ti - e haveremos de falar disso todos os dias. Foste o melhor que me aconteceu na vida. Tão certo quanto a nítida recordação do cheiro da tua pele macia e frágil, que guardarei para sempre na memória, nos primeiros dias em que descobrias o mundo.
sábado, 10 de outubro de 2009
Cada segundo foi diferente
Encontros, desencontros, amuos, birras, gargalhadas, velocidade em excesso (muita velocidade), velocidade zero, lágrimas, berros, sorrisos, cansaço, alegria, álcool, mar, amigos, ratazanas, zinks, tangos, licor beirão, vodka, poncha, flores, revistas (muitas revistas), apoio, confusão, problemas, vitórias, derrotas, discussões, saudades, imprevistos, chuva, fome, taquicardia, tristeza, desilusão, poemas, recordações, surpresas, pizza, vídeos, convite, estudos, mudanças... e acho que não aguento mais...
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Palavras

Não me solto. Estou encarcerado nos teus passos, sem saber porque não me liberto. Nem eu próprio entendo o encanto que tens e que me fascina. Bem sei que és veneno. No entanto, e quanto mais te condeno, mais quero ficar. Bem sei que é loucura. Mas tudo em mim te procura quando não estás.
Teria tanto para te dizer. Só que as palavras insistem em andarem desencontradas com a minha vontade. Elas preferem o silêncio do que a ouvirem-se entre si mesmas. O significado dos sons articulados, contudo, continua a ser o que sempre foi: verdadeiro e sincero. Gostava de colocar um ponto final, mas não consigo. O tempo é demasiado precioso para deixar a frase a meio. Sozinho, não me cansarei de procurar os verbos que quero conjugar; mesmo que conjugados no pretérito perfeito; e mesmo que nunca exista uma primeira pessoa do plural.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
A voar
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Por um momento

terça-feira, 29 de setembro de 2009
Rumo a destino incerto (mas com certezas na bagagem)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Da vida (II)
Falar "da vida" é falar das nossas escolhas passadas, presentes e futuras. Apagar? Não, nunca. São elas que fazem quem eu sou, quem tu és. Ter vergonha, também não. Voltar atrás? Não. Se as vivi foi porque as precisei de viver e elas enriqueceram. Não aplaudo tudo o que fiz e faço e farei. Já fui louca assumida. Já quis apagar o sopro de vida em mim. Já dei gargalhadas bem alto sozinha no meio da rua.
Vivo num constante limbo entre a alegria e o sofrimento e em todos estes anos não consigo mudar isso. O que está na base, eu sei. É a revolta. A revolta para com "a vida"; para com as circunstâncias que me envolvem tão profundas como a morte de alguém ou como o cheiro e o toque de quem se ama... e sinto tanta dor como sinto tanto prazer.
Às vezes penso na minha vida e na maneira como reajo a ela de uma forma em que parece que toco tudo com as pontas dos dedos. Sinto tudo e filtro tudo nesta epiderme. Processo de forma instintiva e reajo. Combate? Sempre pronta!
Sou capaz de amar ternamente como de ripostar de forma animalesca. Preciso sempre de uma droga para me equilibrar. O teu sorriso, o sorriso dela. A vossa presença fazem-me cantar de alegria. Porque a minha vida é muito mais. É a vossa vida com todas as escolhas feitas por vocês. Não apagues a riqueza dentro de ti. Não me faças pensar que tenho de ter os pés no chão desta terra que piso e como tal apagar o que fui e quem eu sou...
Com todo o meu amor.
domingo, 20 de setembro de 2009
Da vida

Viver é (ou deveria ser) a coisa mais rara do mundo. No entanto, a maioria de nós limita-se a existir (por todas as mais variadas e complexas razões, o que nem sempre deve ser censurável). Sinto que sou um louco porque vivo num mundo que não merece a minha lucidez. O mundo parece-se, cada vez mais, com um palco onde muitos aparentam viver no limiar da felicidade. Pomos um ar sereno, envergamos o nosso melhor fato do optimismo e acreditamos que amanhã é que vai ser. Entretanto, fechamos os olhos ao passado e mordemos os lábios, na vã esperança de que o dia de hoje não seja mais do que isto: normal.
Tenho pensado no meu mundo - no que tenho e no que poderia ter. Não sei, sinceramente, em qual destes dois reside (ou residiria) a minha maior felicidade. Provavelmente - e porque há sonhos que nos perseguem - seria muito mais feliz no mundo que poderia ter. Não que aquele que hoje tenho seja sinónimo de eterna tristeza; bem longe disso, aliás (ou, pelo menos, bem menos longe do que já fora em tempos mais longínquos). Mas porque sei que, no mundo que eu poderia ter, há todo um conjunto de (im)possibilidades que me dariam ainda mais coragem para correr com ânimo renovado, na ânsia de alcançar sonhos, vontades e desejos.
Ninguém tem a obrigação de entender ou de aceitar o meu mundo; apenas que o compreendam, nada mais. Porque ele pode parecer complexo, mas é simples. Vivo muito em função do aqui e agora. Respeito o que sinto e admiro, sem jamais querer impôr quaisquer concessões (ou ferir susceptibilidades). É por isso que, por vezes, nas mais diversas circunstâncias da vida, tenho a leve sensação de que sou aquela folha que caiu do cimo da árvore, tendo sido capaz de desarrumar todo um universo inteiro. Pressinto que posso estar sem quererem propriamente que eu lá esteja (apesar da minha vontade de me ficar). É uma generalização, de resto, que se aplica a todos os campos da vida.
O meu avô dizia-me, com o ar mais sábio e meigo deste mundo, que há três coisas na vida que nunca voltam atrás: uma flecha lançada; uma palavra pronunciada; e uma oportunidade desperdiçada. Sobre as palavras pronunciadas: posso até nem concordar com tudo o que algumas pessoas dizem. No entanto, sou capaz de defender até à morte o direito que elas têm de o dizerem. Este é o caminho da verdadeira amizade (providenciada por quem nos rodeia e por quem gostamos), que nos leva a saber tirar proveito das oportunidades, sem nunca deixar que as flechas não acertem no alvo.
Intriga-me saber o que pode haver muito para além da própria vida. Nada do que somos deverá ser por mero acaso; nada do que nos acontece (ou não acontece) terá de ser apenas ocasional; há um sofrimento (que, sem dúvida, não é distribuído de forma igual por todos) que terá de ser compensado de alguma maneira. A haver justiça divina, seria razoável que ela fosse posta em prática ainda aquando da nossa passagem pela Terra.
Talvez assim fossemos a tempo de evitar desperdiçar oportunidades; talvez tivessemos mais coragem em transformarmos o mundo que «poderíamos ter» no que «temos»; talvez a nossa loucura fosse suficientemente contagiante para fazer com que o mundo não fosse demasiado normal e enfadado, cheio de regras e assombrado por falsos atilados que nos lembram, a todos os instantes, que há sempre uma norma qualquer para nos fazer calar o bater compassado do coração.
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
terça-feira, 15 de setembro de 2009
O preço da distância
Porque a distância dói, mói, corrói. Desmotiva-nos, até. Não termos por perto os que muito nos dizem - e que são capazes de verbalizar um elogio, um grito de desabafo; o que seja -, faz-nos pensar no quão fútil é o mundo. Por muito maior que ela seja, são as pequenas coisas que importam. Um abraço, um beijo, um olá, um obrigado, um «podias ter feito este trabalho bem melhor». Acima de tudo, a vida vale por quem, no dia-a-dia, nos diz isto e muito mais. Tudo isto se passa numa pequena parcela da Terra. E, mesmo assim, conseguimos, por vezes, ser tão fortes que o mundo se torna demasiado pequeno à escala daquilo que verdadeiramente somos, fazemos e sentimos. Acho que vale a pena continuarmos a batalhar. Por mim, pelo menos, já valeu a pena...
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Todas as ruas do amor
Tu és tela
Se sou chuva
És aguarela
Se sou sal
És branca areia
Se sou mar
És maré cheia
Se sou céu
És nuvem nele
Se sou estrela
És de encantar
Se sou noite
És luz para ela
Se sou dia
És o luar
Sou a voz
Do coração
Numa carta
Aberta ao mundo
Sou o espelho
D`emoção
Do teu olhar
Profundo
Sou um todo
Num instante
Corpo dado
Em jeito amante
Sou o tempo
Que não passa
Quando a saudade
Me abraça
Beija o mar
O vento e a lua
Sou um sol
Em neve nua
Em todas as ruas
Do amor
Serás meu
E eu serei tua
Intérprete: Flor-de-Lis
Letra da canção: Pedro Marques e Paulo Pereira
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Já chegaste?
Suspiro quinhentas vezes e em cada suspiro sinto o meu pavio da vida a consumir-se rapidamente e com ele vai a minha luz. Entendes? Sinto-me assim desde ontem... a apagar-me. E tu estás longe e não me podes dizer aquelas coisas certeiras que me fazem perceber que ainda não perdi completamente a minha sanidade. Fazes parecer que tudo aquilo que eu sinto de anormal em mim é o mais natural da vida. E eu vou deixando de me sentir assim tão estranha e... a apagar-me.
Já chegaste?
Leituras de viagem


quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Reflexões quase em tempo de check-in...

As circunstâncias fazem parte da vida. Umas mais dolorosas do que outras, mas acredito que nada é fruto do acaso. Passei a dar mais importância ao momento presente. Porque há segundos ou minutos que, no fim de contas, valem toda uma vida. Passei a escutar mais a voz do coração e a silenciar a da razão. E, assim como assim, a razão não explica tudo (nem consegue, sequer, ter a capacidade de nos fazer acelerar o batimento cardíaco, por exemplo).
Também não sei lidar com as saudades. Também fico de mau humor. Ou (contrasenso, eu sei), com um aparente bom humor (mas que não passa disso mesmo: uma aparência que serve apenas para camuflar uma espécie de formigueiro interior; um vazio interior; de que algo fica). É nas alturas em que a distância me separa dos que mais gosto que emerge, ainda mais, este saudosismo. Vejo toda a vida passar-me à frente, em frames sequenciadas, e apodera-se de mim uma vontade inolvidável de voltar aos momentos em que já fui muito feliz. E não há dinheiro que pague a felicidade - mesmo que passageira e marcada no tempo.
Não sei como será o dia de amanhã. É essa incerteza que justifica ainda mais a outra certeza; a da necessidade de saborear o presente (ou, por outras palavras, de fazer com que este tempo presente seja memorável no futuro). As más recordações também existem e fazem parte da vida. Mas é por isso que lhe chamamos passado. O agora é tudo.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Saudades
Mas além disso, acho que há saudades e há saudades. Há outras saudades que nos fazem sentir bem, como dois braços a agarrarem-nos e a paralisarem-nos naqueles instantes segundos de viagem ao passado. "E lembraste quando..." até dá para sentir cheiros, ver o filme e trazer novamente as emoções. No fundo, o que remonta ao passado, se tiver sido um passado bem processado, poderá trazer este tipo de saudades que se taduzem por um sorriso no presente ou uma gargalhada pelo que foi e soube bem.
Não gosto de remexer no passado. Aconteceu. Já não faz parte do presente. Mas confesso que, às vezes, o remexer pode ser um momento bem passado no presente. Sem significado para o presente - é como ver um filme. Passa-se um bom momento a recordar.
Hoje mais do que nunca precisava de "fugir" do presente. Na nossa conversa utilizaste bastantes vezes este termo. "Fugir", "fugir" e, afinal, no presente, ajudaste-me a "fugir". E no presente eu precisava de "fugir".
E a armadura não serve apenas para o combate, a menos que eu esteja numa batalha todos os dias... se calhar é isso. Mas já estou a conseguir levantar o peso da armadura.
Obrigada pela disponibilidade e por simplesmente "estares".
PS - vou tentar ser mais oásis e menos enxurrada.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Contagem decrescente

Conhecendo-me como conheço, darei os últimos passos na gare do aeroporto de olhos postos no chão, com a memória vincada em tudo o que de bom me aconteceu nos últimos tempos. É uma espécie de balanço da vida em 5 minutos - estúpido, eu sei, mas é um avião e temos de respeitá-lo...
Há várias pessoas que incluo na bagagem. Vão comigo e não as largarei nem por um minuto. Fazem parte de mim - seja de que forma for - e tão depressa não as deixo viver sem o meu lado casmurro. Só peço a Deus que eu lhes faça tanta falta como elas me fazem a mim. Até já...
domingo, 6 de setembro de 2009
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Querida, mudei a roda

quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Cumplicidades na areia
É um soninho que se faz logo pela manhã, umas gargalhadas pelo vislumbre de algo captado a quatro olhos e os arrepios que se sentem quando de forma heróica se entra num mar gelado.
Pouco se fala das vidas até porque o objectivo da missão é relaxar o mais possível e o que há de comum entre as vidas não é todo assunto que nos queiramos lembrar quando queremos relaxar. Mas curiosamente é esse comum que nos revela outras cumplicidades, como a contagem decrescente ou as prendas de partida para nos lembrarmos que existem. E também o à vontade com que se está, ainda que a música que toca no rádio nem sempre é favorável a um dos elementos... aprende-se a conhecer os gostos e aprende-se até a deprimir e a stressar por assistirmos à vida amorosa de dois bonecos da Walt Disney.
Sabe bem quando tudo é simples, espontâneo e muito divertido! Sabe bem quando as cumplicidades acontecem e não são forçadas!!
PS - Há histórias que ficam para uma outra altura... ter segredos é importante e o telefonema do "beijo" é exemplo!
quinta-feira, 30 de julho de 2009
terça-feira, 28 de julho de 2009
O efémero do centro da vida
Antes que a minha luz se apague, que a minha chama se extinga, quero fazer tudo por tudo para ter direito a sentir que respirei bem todo o ar enquanto podia. Digo-o porque sinto que não o estou a fazer como o desejava. Há muitas pontas soltas que ficam sem serem agarradas. No fundo, há muitas lágrimas de cera que caiem sem serem consumidas pela chama.
O que sinto resume-se a... não deixem de ter o colo que precisam; não deixem de dar o ombro a quem precisa; não deixem que as circunstâncias da vida vos toldem o andar, enquanto a vossa chama se vai consumindo. Um dia ela apaga-se e esse dia pode ser hoje.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
O tempo nunca é demais
e contar segredos às ondas do mar
Comigo e contigo, a vida tem outro prazer,
é como uma viagem, em que ansiamos ir e regressar
Entre tantos dias sem te ver
o tempo nunca é demais para te ver e escutar.
Trazes no rosto o imenso céu azul
e carrego o sonho antigo de ficarmos, assim, ao luar
As coisas tristes são para esquecer
Boa viagem, quero-te a regressar.
Entre tantos dias sem te ver
o tempo nunca é demais para te amar.
Sei que vais voltar,
está escrito no brilho do teu olhar
Sei que vais regressar.
E, mesmo longe, nunca esqueço o teu lugar...
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Um dia...
E o que nos trava é este medo do desconhecido que, sem dúvida, nos impede de viver ou estar como queremos...
«Gente que aguenta, aguenta, aguenta, à espera que melhore, um dia isto acaba tudo, um dia é que vai ser, um dia é que vamos ser felizes, vocês vão ver.
Gente que aguenta o marido, a mulher, a escola, o patrão, gente que aguenta quem se senta ao lado no autocarro, sem coragem de se levantar e mudar, andamos a aguentar, a aguentar, um dia largamos tudo e vamos correr mundo de cabelos ao vento, sentir a brisa à beira-mar, comer nos cafés de rua, mergulhar em águas quentes, fazer amigos do outro lado, rir, rir, rir, dizer disparates, fazer asneiras, ser criança, um dia fazemos isso, um dia isto acaba tudo, um dia isto melhora, um dia vamos ser felizes, vocês vão ver.
Gente que aguenta, aguenta, aguenta, um dia atrás do outro, fartos deste emprego, do patrão que não olha, não repara, não elogia, dos outros, que são sempre os culpados, os outros, os outros, os outros, culpa daquele e daquela, que vão para a cama com este e aquela, gente que aguenta, que se arrasta onde antes foi feliz, onde chegou porque queria ou por acaso, e foi ficando, ficando, ficando, um dia acorda a arrastar os pés, de um lado para o outro, zombies, cadáveres, de casa para o trabalho, do trabalho para casa, gente a quem apetece chorar, chegar a casa e explodir, a perguntar onde foi que erraram, sem poder voltar atrás, gente a trabalhar numa prisão, das nove às cinco, com vontade de gritar que se fodam vocês, mas não pode, não deve, são as contas para pagar, contas, contas, contas, uma vida inteira a pagar contas, e por isso aguenta, aguenta, gente que diz um dia vou-me embora, um dia sai-me a lotaria, um dia vou ter o meu negócio, nunca mais me dão ordens, um dia isto acaba tudo, um dia isto melhora, um dia vamos ser felizes, vocês vão ver.
Gente que aguenta a relação, aguenta, aguenta, é mais prático, dá trabalho separar, dividir, magoá-la, magoá-lo, gente que muda, que fica diferente, mas que ninguém repara, em revolta com quem não muda, com quem já não vai ao nosso lado, ficou para trás, ficou para a frente, já não damos as mãos, mas a gente aguenta, aguenta, aguenta, um dia isto passa, é uma fase, são assim as relações, é o que nos dizem, gente que tem medo do tempo, da guilhotina da maternidade, de ficarem velhos e velhas e não terem filhos novos, medo de não encontrar mais ninguém, medo terrível da solidão, de não voltar a ser feliz, de enfrentar o incerto de punhos fechados, gente com medo, quanto mais velho mais medo de deitar tudo para trás, medo de dizer acabou, paciência, não tenho ressentimentos, não tenhas tu, sê feliz porque eu também quero ser, medo disto e daquilo, de tudo e de nada, e por isso a gente aguenta, aguenta, aguenta, um dia isto acaba tudo, um dia isto melhora, um dia vamos ser felizes, vocês vão ver.
Gente amordaçada, em revolta com o mundo, revolta surda-muda, cá dentro, em guerra com tudo e todos, em guerra com este e aquele, comigo e contigo, gente que não aguenta a cara ao espelho, a sofrer horrores, impotente, sem forças, conformada, roubada de todos os sonhos loucos, gente que já não grita pela vida, gente carcomida pela angústia, pelo medo, pelo desgosto de já não ser feliz, gente que gosta disto mas queria mais qualquer coisa, que não sabe bem o que é, mas que quer, gente com o sangue coagulado, vermelho escuro e parado, gente frágil, tão frágil, à procura de força, força, força, sabe-se lá onde onde esta gente frágil vai buscar tanta força, gente à procura de quem perceba que andamos a mentir quando respondemos que está tudo bem, gente que se deita todas as noites a pensar que amanhã vamos ser felizes, amanhã, vocês vão ver, vou-me embora, vou acabar, começar, chegar, ficar, decidir, gente que amanhã vai fazer alguma coisa, mas não faz, tapam-lhe a boca, cordas atadas, fica para amanhã, amanhã é que é, gente que aguenta mais um dia, um dia não é nada, aguenta, aguenta, aguenta, um dia isto acaba tudo, um dia isto melhora, um dia vamos ser felizes, vocês vão ver.
Antes a loucura ou a morte rápida a este sofrimento todo.
Mas um dia isto acaba tudo, vocês vão ver. Um dia.»
Fonte: http://acatarcomestimaoinsulto.blogspot.com/
terça-feira, 14 de julho de 2009
A insustentável leveza do ser

segunda-feira, 13 de julho de 2009
[corri]

terça-feira, 7 de julho de 2009
Espanha
quinta-feira, 2 de julho de 2009
A vida por fazer

sexta-feira, 26 de junho de 2009
Como um barco vazio, nas margens do rio

A estupidez reside no facto de sabermos, no fundo, que tudo isto se deve a uma ninharia qualquer. Deitei a perder os mais sagrados vícios, sem sequer regatear os sacrifícios. Nada sobrou de mim, a não ser a certeza do pouco que já sabes (e que é muito). Mesmo assim, a tua sombra continua a pairar-me nos dias longos e frios. Tão depressa deixarás de ser o sol que ilumina a escuridão da noite.
A estupidez reside no facto de sabermos que a travessia deste deserto inóspito e seco ser demasiado solitária. É uma caminhada rumo a um oásis que existe, mas cuja chegada teimamos em adiar. Seguimos por atalhos que pensamos ser os mais acertados. Falta-nos coragem. Sem ela, não conseguiremos apanhar, a tempo, a garrafa que traz a mensagem de esperança; sem ela, continuaremos a vaguear no mar cinzento e vazio; sem ela, continuaremos escravos da estupidez.
Dangerous
quarta-feira, 24 de junho de 2009
Notas soltas

domingo, 21 de junho de 2009
David

Num livro que ando a ler...
Diz assim:
“Na obscuridade sempre densa, um longo roçagar desordenado de seda, um perfume. Omar retém a respiração, a sua pele está desperta; ele não pode coibir-se de perguntar, com a ingenuidade de um noviço:
- Ainda tens o véu?
- Já não tenho outro véu que não seja a noite."
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Zen em stress

segunda-feira, 15 de junho de 2009
A vida como ela é
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Os mistérios da mente
